Quem mora no Paraná se lembra provavelmente que, poucos anos atrás, a prefeitura de Paranaguá foi pega com a boca na botija exportando seus mendigos para outras terras. Caso típico de “higiene social” em pleno século 21. Para que melhorar a vida dos pobres se é possível simplesmente comprar uma passagem e mandá-los para longe? O problema da exclusão social é resolvido da maneira mais lamentável: com uma exclusão ainda mais completa.
Agora, são cidades de Santa Catarina que estão sendo acusadas da mesma prática. Em Florianópolis, a população faz protestos contra mendigos que estariam invadindo a praia de Canasvieiras. Seriam agressivos, estariam usando drogas e tumultuando a região. Os habitantes da região dizem que tudo começou com outro caso de higiene social, desta vez em Balneário Camboriú. A prefeitura local nega, mas há quem diga que viu kombis carregadas de mendigos sendo levados à capital.
É claro que os moradores de Florianópolis, assim como os de Balneário Camboriú, têm direito de querer segurança. Quem não quer? O estranho dessa situação é que é preciso definir: os mendigos são ou não criminosos. O simples fato de ser mendigo não é crime. Se o sujeito só fica na dele, sem fazer nada a ninguém, não faz o menor sentido querer prendê-lo, expulsá-lo ou eliminá-lo da vida social. Agora, se comete crimes, a solução é simples: tem de ser responsabilizado, preso.
Assim, as prefeituras das duas cidades e os moradores erram o alvo. Se querem segurança – e não higiene social – devem registrar queixas de crimes, provar que se trata de bandidos, e apontar quem fez o que. Se não fizeram nada, por favor, deixem os tais mendigos em paz.
Há motivos para pensar que não se trata de mera questão de segurança. Embora os casos sejam afastados por uma centena de quilômetros, vale a pena lembrar que em Brusque, ainda no estado vizinho, uma carta circulou avisando aos “baianos” migrantes que foram em busca de emprego que o comportamento deles não é bem aceito. Se continuarem a ouvir música alta e a desrespeitar os bons costumes da cidade, diz a carta, estão avisados. Serão eliminados. Assim mesmo: eliminados.
Neste caso, quem tem de ser investigado e responsabilizado, claro, é o autor da tal carta.