Quando as pessoas são pegas com a boca na botija, surgem as desculpas mais esfarrapadas possíveis. “Não é o que você está pensando.” “Fumei, mas não traguei.” “Depende da definição que você tem do que é uma relação sexual.”
Nos últimos dias, com a revelação das delações da Odebrecht, começaram a surgir as frases dos acusados. E, nelas, as declarações mais absurdas. “Se a Odebrecht quis dar R$ 5 mil para o meu irmão, problema da Odebrecht”, disse Lula. Já Aécio disse que seu caixa 2, diferente do petista, era republicano.
E os próprios acusadores – não esqueçamos, eles próprios criminosos, compradores de políticos no atacado e no varejo – se saíram com as suas racionalizações para dizer que o problema, no final das contas, não eram eles, nem o seu relacionamento escuso com os políticos.
Emílio Odebrecht, patriarca da holding de aquisição de mandatos eletivos, disse em declaração juramentada, gravada e carimbada que fica espantado com a reação das pessoas. E principalmente da imprensa. “Como assim?”, pergunta ele, se tudo isso acontecia nas barbas de todo mundo? Se todo mundo sabia?
Como se a indignação que causam os atos dele, de seu filho e das pessoas que eles contrataram para corromper a democracia brasileira tivessem tido a conivência de gente que agora, hipocritamente, estivesse pagando um pedágio ruborizado à virtude.
O que Emílio Odebrecht quer é dizer que ele só estava fazendo parte de um esquema maior. Que ele era mera engrenagem em uma máquina construída por toda a elite brasileira e que, portanto, seria injusto e tolo vê-lo como mentor de algo. É mais um pobre diabo que não teve escolha.
Ora, convenhamos. É preciso impor um limite à falsidade. O sr. Odebrecht comandou um império – na verdade um cartel de impérios – capaz de comprar a Presidência da República para quem lhe agradasse e lhe desse uns tostões (bom se fossem tostões) de recompensa.
Fez isso porque quis e porque pôde. Querer dividir a culpa com todo mundo agora é mera covardia de quem racionaliza a situação para não se ver como o pulha que foi.
A imprensa sabia de tudo? Claro que todo mundo desconfia. Agora: publique as coisas sem provas e veja o que acontece com o repórter. Com provas você já arrisca passar o resto da vida viajando para responder a processos. Sem provas, perde-se tudo – inclusive o respeito.
Publica-se agora porque agora há provas. E há provas porque agora a polícia e o MP agiram. Se foram coniventes antes? Vá saber. Se algum dono de veículo tinha essa informação antes? Se tinha, que Emílio prove. Ou se digne a aceitar que o que ele fez não tem desculpa.
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