Um empresário norte-americano causou um escândalo ao aumentar o preço de seu produto em cerca de 5.000%. O aumento em si já seria chocante, mas muito mais por se tratar de um medicamento do qual a vida de muitas pessoas depende.
O remédio é para combater a toxoplasmose, uma doença cujo contágio se dá via alimentação e que afeta principalmente pessoas com problemas de imunidade, como doentes de câncer e portadores do vírus da Aids.
O remédio, Daraprim, está no mercado há 62 anos. Até recentemente, cada comprimido saía por US$ 13,50. Depois que o laboratório farmacêutico Turing comprou o direito a comercializar o remédio, o preço saltou para US$ 750 por comprimido.
Com isso, o tratamento anual para quem depende do remédio ficou agora em torno de R$ 2,4 milhões.
O caso chamou a atenção não apenas para os doentes que precisam do remédio, mas causa também uma discussão sobre até onde é justo deixar as empresas decidirem livremente os preços de produtos que podem ser decisivos para manter pessoas vivas.
Atualmente, tem crescido nos Estados Unidos (e também no Brasil) uma corrente de defensores radicais do livre mercado que acha que é preciso impedir todo tipo de regulação que impeça o lucro e que dificulte as estratégias das empresas.
A lógica do mercado, dizem, seria suficiente para regular preços – uma confiança quase cega na famosa “mão invisível” do mercado popularizada por Adam Smith.
Na internet, depois do aumento do preço do Daraprim, surgiram gritos acusando os donos da empresa de “assassinos”. A resposta da empresa foi afirmar que era necessário aumentar o preço para que a empresa continuasse viável e para que fizesse investimentos na descoberta de novas drogas.
Criticado, Mark Shkeli, da empresa, disse nas redes sociais que não tinha problema. Disse que aceitava ser criticado para beneficiar seus acionistas.
No entanto, nesse caso não se aplica a regra “schumpeteriana” de que a empresa que fez a descoberta precisa de um tempo de monopólio ou de livre preço para recuperar o investimento. Primeiro, porque essa empresa não foi a responsável por descobrir o remédio. Segundo, porque em seis décadas o investimento certamente já se pagou.
Segundo o New York Times, o aumento abusivo do preço de remédios é uma tendência atual nos EUA. Houve vários casos de empresas que descobriram medicamentos antigos que não eram tão lucrativos, compraram seus direitos e aumentaram muito os preços.
Um frasco de doxiciclina, um antibiótico, subiu de US$ 20 para mais de US$ 1,8 mil. Remédios para câncer tiveram aumentos semelhantes.
Além de causar aumento de custos para indivíduos, os aumentos também pesam para orçamentos de governos que precisam comprar as drogas e planos de saúde. E, fazendo com que o orçamento fique mais pesado, podem até levar a mais aumentos de impostos (o que vai contra o discurso dos liberais exaltados).
Tudo isso faz com que se discuta a necessidade de regulamentações mais precisas que evitem abusos. Nisso, o Brasil está muito mais adiantado do que os EUA.
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