Um antigo chefe, quando via a gente escrevendo sobre certos assuntos, dizia que parecia jornal antigo. “Os Flintstones já liam sobre isso. E os Jetsons ainda vão ler.” O Camargo, esse chefe, estava sempre certo – exceto em questões de futebol. No caso, acho que estava falando do conflito entre israelenses e palestinos, que infelizmente não chega mesmo a um fim. Mas a frase se aplica a várias outras coisas. E algumas delas a gente tem mais é que torcer que não cheguem a um fim.
Exemplo: o metrô de Curitiba. Eu estava estudando a cartilha da abelhinha e os prefeitos já falavam em um transporte de alta capacidade. Entrei no jornal e o primeiro prefeito que entrevistei, Cassio Taniguchi, prometia um metrô de superfície. Desde lá, já faz tempo que o metrô de Curitiba está “quase”. Só nas últimas duas gestões a presidente Dilma veio à cidade três vezes para anunciar que, agora sim, a coisa ia. Não foi. Ainda bem.
Por esses dias, o prefeito Gustavo Fruet (PDT), o novo candidato a pai do metrô curitibano, foi a Brasília pedir mais meio bilhãozinho para inteirar a obra. É que como está tudo embargado, o valor anunciado antes já não paga a obra – agora estimada em cerca de R$ 6 bilhões. Desses, pelo menos R$ 700 milhões cairão nas costas do contribuinte paranaense. E outros R$ 700 milhões ficarão exclusivamente para o bolso do contribuinte curitibano.
Claro, metrô é bom e todo mundo gosta. As linhas de Curitiba estão sobrecarregadas e seria bom ir de um lugar para outro sem levar cotovelada no rim, pisão no pé e perder o celular para alguém que enfiou a mão no seu bolso – e você nem tem como abaixar a mão para pegar de novo porque, se soltar da barra, vai pro chão. Mas o que ninguém tem como dizer até agora é se o metrô, e ainda um metrô enterrado, de seis bilhões de reais, é o melhor caminho para superar tudo isso.
Logo depois da visita de Fruet a Brasília, a senadora Gleisi Hoffmann disse que é preciso ver se a ideia de Curitiba de fazer o metrô era “para valer”. Segundo ela, não é. Com mais dois ou três aliados desses, Fruet está feito. Gleisi aproveitou para dizer que acha que a ideia do metrô como um todo precisa ser repensada. Faz sentido. Até agora, por exemplo, a prefeitura não apresentou o mais básico dos estudos para comprovar que esse é o caminho.
Existe uma coisa chamada pesquisa origem-destino. É uma espécie de censo. Quando feita a sério (e não como se fez na região metropolitana) é preciso bater de porta em porta, perguntar quantas pessoas há, para onde elas vão e como se locomovem. Num mundo ideal, todos seriam ouvidos. Sai caro, mas evidentemente custa uma fração da primeira linha que a prefeitura pretende pôr embaixo das atuais canaletas do Santa Cândida-Capão Raso.
Metrô é um troço sério. Essa “meia linha” do centro ao sul custa quase um orçamento inteiro da cidade. Para fazer norte-sul inteiro e a linha leste-oeste (Centenário-Campo Comprido) seriam quatro vezes isso. Além do preço, essa rede mínima de linhas tomaria décadas para ser construída. E até agora – eis o mais grave – ninguém tem como afirmar com certeza que abrindo mais linhas paralelas com o expresso, por exemplo, a solução não vem bem mais barata.
Por enquanto, prefeitura e governo do estado podiam fazer coisas bem mais simples e que já aliviariam a situação de quem anda de ônibus. A prefeitura podia informar o horário do ônibus em cada ponto e pôr um banquinho para o sujeito esperar. Banquinho não depende de licitação bilionária, não exige escavação nem vai ser embargado pelo Tribunal de Contas. Já seria uma mão na roda. E o governo do estado? Podia pelo menos parar de atirar com bala de borracha em quem protesta contra a situação do busão. Básico.
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