Quando se reelegeu para o governo do Paraná no primeiro turno, em 2014, era visível que Beto Richa (PSDB) começava a pensar numa possível eleição presidencial. O partido tinha tudo para finalmente vencer, com o PT em crise. E os grandes nomes do PSDB nacional estavam em declínio.
Serra, Alckmin e Aécio tinham tido suas chances e desperdiçaram. Além disso, a Lava Jato mostrou que o discurso tucano de botar toda a culpa da falta de ética do país nos petistas era uma farsa. Os três aparecem em denúncias de caixa dois, e Aécio só não foi preso porque seus pares no Senado o protegeram.
Mas Richa também começou a ter problemas. Quebrou o estado no primeiro mandato, mentiu na eleição, dizendo que estava tudo bem e depois precisou entrar de sola para corrigir o erro. O 29 de abril foi o resultado trágico dessa equação – e o nome do menino de outro do PSDB começou a ser manchado nacionalmente.
Quanto mais passava o segundo mandato, mais as coisas desandavam. A uma denúncia se seguia outra. Cada operação era sucedida por um novo escândalo. Publicano, Voldemort. Quadro Negro (dinheiro desviado de escolas!). Lava Jato. Caixa dois…
A prisão dessa terça foi o tiro de misericórdia. Não só acabou com qualquer pretensão de longo prazo de Beto como pode ter enterrado sua carreira política imediatamente. Pior: virou um embaraço para o partido. Um constrangimento mesmo para os que já apareciam em listas de empreiteiras.
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Nesta terça, em sabatina, o presidenciável Geraldo Alckmin nem tentou defender o colega. “Quem deve paga”, disse, pisando no correligionário como quem passa por cima de um cadáver insepulto.
Richa virou argumento contra. Nesta terça mesmo, aliados de longa data se esqueciam da lealdade. Os dois principais candidatos ao governo do Paraná, que mamaram até onde puderam nas gordas tetas do Palácio de Richa, pareciam estar tratando de um desconhecido ao falar de Beto.
Lideranças do PSDB local pediam a repórteres que não associassem seu nome ao de Richa. Que não aparecessem na mesma frase. De preferência, nem na mesma matéria. Nunca ouviram falar dele. Assessores anunciavam demissão sem aviso prévio. “Tudo tem limite”, dizia um deles.
Em quatro anos, Richa conseguiu o prodígio de passar de maior liderança do estado a um nome tóxico, um símbolo de algo a ser evitado. Triste fim para uma carreira política que, lá atrás, parecia promissora.