A morte de um adolescente é uma tragédia em si. Um homicídio de um menino de 16 anos poderia gerar uma única atitude decente: dor e consternação. Tristeza. Luto. Não foi o que aconteceu nesta segunda, em Curitiba.
A história do menino morto é especialmente trágica. Quem o matou foi um colega. Um amigo de infância. Os dois são menores de idade. Os dois tinham a vida pela frente: agora, um está morto; o outro está e será, para sempre, marcado por um homicídio.
A radicalização do discurso político, porém, fez com que muita gente não visse nisso uma tragédia, e sim a chance de externar ódios políticos. Parte desse ódio é rancor verdadeiro, de quem vê no outro um inimigo, o mal. Parte é ainda pior: é cálculo político-partidário.
Imediatamente após a notícia da morte, políticos profissionais começaram a discursar sobre o caso. Ainda nem se sabia exatamente o que tinha acontecido, e deputados já estavam na tribuna. Falando sem saber – isso acontece mais vezes do que gostaríamos.
Um disse que a culpa era do PT, por insuflar as manifestações. Outro, que a culpa é do governo do estado, por não agira de maneira adequada contra uma Medida Provisória do governo federal. Na internet, o show de horrores prosseguiu.
Soube-se depois que a morte não tinha nenhum motivo político. Pouco tinha a ver com o fato de a escola estar ocupada, na verdade. Os dois tiveram, segundo a polícia, um confronto por causa de problemas entre eles – conflito motivado, talvez, por desequilíbrio químico, por drogas.
Isso poderia ocorrer na escola ocupada – e fica até mais provável, num ambiente sem fiscalização – mas poderia ocorrer em qualquer outro lugar. Se o fato de não haver adultos em número suficiente colaborou para isso, deve-se discutir isso. Não mais do que isso.
Nas redes sociais, militantes dos dois lados participaram do circo. Colocam a culpa em Richa (que jamais ordenou a desocupação de uma escola e, admita-se, ouviu os alunos e foi a Brasília levar seus pedidos). Colocam a culpa na radicalização da esquerda (numa evidente tentativa de deslegitimar todo um movimento que tem, no fundo, várias boas razões para ocorrer).
Quem optou nessa semana pela radicalização optou por deixar morrer dentro de si um pouco de sua humanidade. Ao invés de se chocar com o que há de mais triste na experiência humana, preferiu usar isso em nome do ódio, do rancor e do cálculo.
A política deveria ser uma parte da vida, não toda ela. A política partidária deveria ser menos importante do que a vida e a morte. Especialmente do que a vida e a morte de meninos de 16 anos. Eles viveram e morreram por questões que ainda temos de entender. A política no Brasil está morrendo por não conseguirmos entender que há mais na vida do que demonizar quem pensa diferente, ainda que a custo da dor alheia.
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