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O Prêmio Camões, mais importante da língua portuguesa para o conjunto da obra de um escritor, saiu para Ferreira Gullar.

Quando era mais novo (e menos politizado, portanto mais radical) li bastante Ferreira Gullar. Achava bonita a poesia engajada dele.

Hoje não tenho a mesma afeição. Mas, mesmo assim, respeito tremendamente o poeta.

Por isso, assim como semana passada foi a vez de Norman Rockwell, esta será a semana de Ferreira Gullar no Caixa Zero.

Começando com o clássico “Nós, Latino-Americanos”. Uma homenagem à revolução sandinista.

(Aliás, será que vai ter alguém dizendo que a organização do prêmio é “esquerdopata”?):

Nós, latino-americanos

Somos todos irmãos
mas não porque tenhamos
a mesma mãe e o mesmo pai:
temos é o mesmo parceiro
que nos trai.

Somos todos irmãos
não porque dividamos
o mesmo teto e a mesma mesa:
divisamos a mesma espada
sobre nossa cabeça.

Somos todos irmãos
não porque tenhamos
o mesmo braço, o mesmo sobrenome:
temos um mesmo trajeto
de sanha e fome.

Somos todos irmãos
não porque seja o mesmo sangue
que no corpo levamos:
o que é o mesmo é o modo
como o derramamos.

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