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Sempre acho estranho quando colocam uma foto de Fernando Henrique e Lula convivendo bem e dizem que isso é uma mostra de que os extremos podem conviver bem. Pra quem viveu um pouquinho que seja da ditadura militar e o período da redemocratização, estranho é esse ponto de vista de que eles seriam uma oposição irreconciliável um ao outro.

Nesta semana, aconteceu de novo. Lula perdeu a mulher e Fernando Henrique apareceu para lhe dar um abraço. O mesmo tinha acontecido quando foi Ruth Cardoso quem morreu. Nada mais natural. Os dois têm muito m,ais em comum do que os patéticos militantes histriônicos de internet jamais ousariam cogitar.

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FHC e Lula têm origens diferentes, claro. Um na academia, outro no sindicalismo. Seguiram caminhos diferentes – um no PSDB, outro no PT. Mas não foi apenas a necessidade de combater um regime ditatorial que os uniu nos anos 1970 e no início da década de 1980.

Ambos tinham origens à esquerda – embora ambos tenham renegado esse passado, em maior ou menor medida, ao assumir um pragmatismo em nome do poder (e, ah, a bendita palavra) da governabilidade. E para quem viveu o início dos anos 1990, sabe que faria todo o sentido os dois irem juntos para o poder. Só não aconteceu por muito pouco.

Em 1994, Lula já era uma potência eleitoral. Perdera o segundo turno para Collor: mas tinha impressionado ao derrotar gente do tamanho de Ulysses, Brizola e Covas para chegar ao segundo turno. Era o candidato da vez, até que Fernando Henrique, num golpe de sorte, foi chamado por Itamar para a Fazenda. E com um plano tecnicamente muito sofisticado, erradicou a inflação do país. Ninguém poderia vencê-lo depois disso.

Faria todo sentido Lula e Fernando Henrique montarem uma coligação. Os dois estavam mais à esquerda, muito mais à esquerda, do que o PFL a quem FHC acabou recorrendo para conseguir u vice de peso, tempo de tevê e apoio suficiente. Mas os dois eram vaidosos e ninguém queria abrir mão da cabeça de chapa. Foram um contra o outro – e começou a história da batalha entre PT e PSDB.

Por uma ironia do destino, os dois acabaram fazendo alianças com o centro fisiológico (o PMDB) e com uma direita que obviamente não combinava com seu passado (o PFL, para Fernando Henrique; o PP para Lula – ambos herdeiros diretos da ditadura que ambos haviam combatido).

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FHC implantou políticas que o PT rotula de neoliberais. Lula, presidente na sequência, é rotulado pelos fãs do PSDB moderno, mais à direita, como se fosse um novo Fidel Castro. Nada disse faz sentido. evidente que seus governos foram diferentes. E é claro que as diferenças pessoais entre eles existem.

Mas muito mais o que separa FHC e Lula (os homens, não os presidentes) é a histérica militância que quer ver neles extremismos que eles nunca deviam ter representado. Um extremismo reforçado em grande medida pela gritaria das redes sociais, que distorce o oponente até transformá-lo num diabo.

FHC não é a extrema direita, Lula não é a extrema esquerda. Mas vá explicar isso num mundo em que os eleitores de um lado torcem para que morram as pessoas do outro lado?

 

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