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Sempre que falam em Revolução Cubana, me lembro de Sartre visitando a ilha logo em 1960, um ano depois da tomada do poder por Fidel e seu grupo. No livro que escreveu sobre o assunto, disse que aqueles jovens revolucionários poderiam não ver um único dia de 1970, mas estavam dando o seu melhor naquele momento, e era o que importava.

Era o sonho da revolução. Sonho que, oficialmente, acabou ontem.

Para a maior parte dos cubanos, na verdade, o sonho durou pouco. Não bastasse a pobreza, veio o bloqueio. Não bastassem os dois, veio a falta de liberdade.

Um taxista disse a uma colega em visita à ilha, já nos anos 2000: “somos todos reféns do sonho de um homem”. Falava a verdade. àquela altura, o sonho já não era de todos, era de uns poucos, Fidel à frente.

Ontem, veio a notícia de que o próprio Fidel, velho, cansado de passar não só por 1970, mas por 1980, 90, 2000 e 2010, decidiu ele próprio enterrar seu sonho.

Em entrevista à revista norte-americana Atlantich Monthly (logo americana, olhe a ironia!), admitiu que o “modelo cubano” não serve nem mais para Cuba. Quanto mais para exportação.

O jornalista não quis ou não pôde perguntar mais. Mas a singela frase num almoço, antes de irem todos assistir a um show de golfinhos, diz muito.

Alguns que ainda defendem o modelo dirão que não é bem assim. Que se não fosse o bloqueio norte-americano. Que se não fosse o fim da União Soviética. Que se Fidel não estivesse velho como está. Que ele talvez nem dissesse isso, etc.

Mas falou. E parece estar certo. Pelo menos pelos seus próprios padrões. Raúl Castro, seu companheiro de revolução, seu irmão, que hoje toca o país, começa a acabar com o modelo ele também.

E logo Cuba deixará o socialismo. E será o último país do Ocidente a fazer isso, e um dos últimos do mundo.

O sonho de uma revolução que mudaria tudo, da noite para o dia, não funcionou. Quem disse foi o próprio líder da revolução (e, bem antes dele, todo o resto do povo cubano).

A revolução trouxe aspectos positivos. Mostrou que com um pouco de esforço pela igualdade é possível criar num país pobre, latino-americano, condições decentes de saúde, educação, evitar excluídos.

O socialismo, se faliu nas suas tentativas, teve como mérito forçar o capitalismo a partir um pouco mais para essa tentativa de igualdade mínima.

Mas faliu. Pelo menos em seu “modelo cubano”. E foi Fidel quem o disse.

Hoje, se Sartre visse o velho Fidel andando por Havana, diria que ele sabe que não verá o ano de 2020 (no que poderia, novamente, estar errado). E que, sem um sonho socialista para viver, restava-lhe ir visitar os golfinhos.

Mas isso não seria, talvez, um tema para Sartre. Tem mais a cada de um Erico Verissimo, ou um García Marquez. Que seja…

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