Há dois anos, a Fiesp anunciou: não pagaria o pato. Se o país tinha um problema, não era do empresariado. Que se achasse em outra gaveta o dinheiro necessário para fechar as contas. Como sempre, o empresariado ganhou a parada.
O novo governo, que derrubou Dilma com as bênçãos do empresariado (na Paulista, chegou a haver lanchinho à base de mignon para os cansados manifestantes pró-impeachment) tirou dinheiro, benefícios e direitos de todo lado. Só não mexeu com os verdadeiros donos do Palácio.
Quem está no serviço público entrou na mira por causa de suposto excesso de benesses. Tanto nos estados quanto em Brasília, se o servidor chia é meramente um marajá tentando garantir uma vida de luxos (o que não só não é verdade, na maioria dos casos, como conflita com a gastança que os poucos privilegiados de fato, os amigos do rei Temer, fazem no Congresso e no Executivo).
Quem está na iniciativa privada entrou na mira com a reforma da Previdência e com a reforma trabalhista. É preciso flexibilizar, diz o discurso da moda. Justamente para que o emprego não pese demais no empregador – pintado como uma espécie de altruísta que abre mão de seu sossego para fazer girar a roda da economia (e não como alguém que deseja lucro – o que aliás é lícito, diga-se).
As reformas deixam a Fiesp com a faca e o pato na mão. Haverá menos encargos e os trabalhadores precisarão ficar mais tempo no mercado, o que vai gerar mais disputas pelas vagas. Pela lei de oferta e demanda, a tendência é pagar salários menores.
Recentemente, cogitou-se uma medida que finalmente cobraria um tiquinho de nada a mais dos mais ricos. Uma nova alíquota do Imposto de Renda, para quem ganha acima de R$ 20 mil mensais. Só 35% – muito menor do que em países civilizados.
Mas Temer logo garantiu que não. No único país em que o lucro pessoal de empresas não é tributado para evitar injustiças (nos damos esse luxo), o empresário pode dormir tranquilo com a certeza de que o presidente não lhe cobrará mais esse naco.
Quem não consegue emprego também perdeu: nós num mês o governo cortou mais de meio milhão de benefícios do Bolsa-Família. Finalmente um recorde para este governo. Se fica doente, que se cuide: o ministro quer que o SUS pare de pagar tudo. Se quiser ir à faculdade, fica ainda mais difícil: piorou o Fies, minguou o Prouni e as federais estão entregues à própria sorte.
Só duas categorias não saíram perdendo, pelo que se vê. Os políticos profissionais. E o grande empresariado. Esses, como se sabe, jamais pagarão pato algum. A não ser, talvez, um confit de canard de vez em quando. Que ninguém é de ferro.
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