Os excessos, a essa altura já está claro, foram brutais. No entanto, vale perguntar se Francischini teria caído caso sua reação aos fatos – e especialmente às críticas – tivesse sido outra. Ou, dizendo de outro modo: tudo leva a crer que Francischini não teria precisado sair se, quando se percebeu o tamanho da catástrofe que tinha sido criada, tivesse se mantido ao lado dos coronéis da PM.
O que levou à queda do secretário, de fato, foram os manifestos dos coronéis na última semana. A situação ficou insustentável quando 17 dos 19 coronéis da ativa assinaram uma carta ao governador Beto Richa (PSDB) dizendo que repudiavam as atitudes do secretário. Os outros dois não assinaram, segundo se diz, por estarem de férias ou fora da capital. Não há como comandar uma tropa se não há sequer possibilidade de diálogo com seus chefes.
O repúdio, por sua vez, surgiu da manobra de Francischini – depois renegada por ele – de tentar colocar a culpa pela violência, pelos 213 feridos, pelos abusos, na tropa. Como se ele, na condição de secretário, não precisasse responder por aquilo. Numa estrutura altamente hierarquizada, como a PM, isso é inadmissível. Os chefes são sempre responsáveis pelas atitudes de sua tropa. Por inabilidade ou falta de opção, Francischini não respeitou essa regra básica do jogo.
Tudo isso leva a pensar que foi a política, e não a violência, que derrubou Francischini. O que significa dizer que o governo ainda não admitiu claramente que os fatos daquele 29 de abril foram inaceitáveis do ponto de vista moral, do ponto de vista dos direitos humanos. O próprio governador, aliás, nunca mais se pronunciou depois de suas terríveis primeiras entrevistas sobre o caso, em que ainda insistia em colocar toda a culpa sobre vândalos ou arruaceiros. Versão que, obviamente, hoje não se sustenta mais.
O governo do estado tem perdido uma oportunidade depois da outra de dizer que não será conivente com a violência policial. Deixou que o comandante da PM e o secretário da área caíssem sob outros pretextos ou por outros motivos. Pela versão oficial, aliás, ninguém foi demitido. Quem saiu simplesmente pediu exoneração.
É possível que o inquérito policial militar ainda puna algum. Talvez de baixa patente. Mas os chefes da operação não foram punidos: saíram por questões políticas e sem um carimbo de demissão em seus currículos. Não parece que isso vá ajudar a refrear a truculência policial daqui por diante.
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
STF e governistas intensificam ataques para desgastar Tarcísio como rival de Lula em 2026
Governo e estatais patrocinam evento que ataca agronegócio como “modelo da morte”
Pacote fiscal pífio leva Copom a adotar o torniquete monetário
Por que o grupo de advogados de esquerda Prerrogativas fez festa para adular Janja
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS