Na nota divulgada via Facebook, a paranaense repete o que já vem dizendo: que é mentira. E, para defender sua versão, diz basicamente que as versões dos dois delatores não batem. Cada um diz que a decisão de repassar o dinheiro a ela veio do outro. E a pessoa encarregada de fazer a entrega teria negado tudo, assim como o dono da Odebrecht – que na versão dos delatores foi quem bancou a operação.
A senadora tem todo o direito de se defender. E apontar inconsistências nas delações é relevante. No entanto, duas coisas precisam ser ditas. De um lado, Gleisi insiste que as informações são “requentadas” e “manipuladas”. Diz que os jornais não estão sendo fiéis ao processo.
No entanto, as informações sobre o caso são absolutamente relevantes. Não são requentadas. Se um diretor da Petrobras, que o governo a que ela pertenceu, diz na Justiça – e não em uma conversa informal – que R$ 1 milhão foi tirado do cofre público para uma campanha ilicitamente, isso não é nem um pouco desprezível. Se diz isso em uma acareação, não é notícia requentada. É simplesmente notícia.
A essa altura, a desqualificação dos delatores, que têm provas suficientes de que tinham real influência e conhecimento das coisas na Petrobras, não é suficiente para que alguém diga que a notícia do que eles falaram é inócua. A senadora tem direito a defesa. Mas os eleitores têm direito à informação.
E o outro ponto que seria necessário esclarecer é: se ambos estão mentindo (e para a versão de Gleisi ser verdade, a de ambos precisa ser mentira), seria necessário saber o que move os dois a falar o que estão falando. Já tinham bastante coisa para dizer para receberem os efeitos da delação premiada. Precisavam dela como alvo? Por quê?
Não se trata de dizer que ninguém é culpado antes do julgamento. Nem está-se dizendo que a versão de Youssef e Paulo Roberto Costa é verdadeira. Mas a discussão sobre tudo isso tem de acontecer, até para que a senadora, se for o caso, prove sua inocência.
Veja a nota de Gleisi:
Desde outubro de 2014 tenho sido acusada, junto com meu marido, Paulo Bernardo, de ter pedido e recebido dinheiro de propina para minha campanha ao Senado em 2010.
Reafirmo aqui, com todas as letras, que não pedi, nem recebi dinheiro dessa procedência pra minha campanha. Reafirmo que não conheço Paulo Roberto Costa, nem tampouco Alberto Youssef. Nunca estive com eles e nunca me envolvi com assuntos da Petrobras. Reafirmo, ainda, que todos os valores doados à minha campanha foram devidamente contabilizados e aprovados pelo TSE.
Somente em março de 2015 tive acesso às delações premiadas desses senhores, que foram ouvidos duas vezes cada um. Nas transcrições que estão no processo, nenhum dos dois assume a responsabilidade pelo suposto repasse nem de terem sido sujeitos para o pedido.
Explico melhor: Paulo Roberto Costa diz que foi Alberto Youssef quem pediu pra ele passar dinheiro para minha campanha e Alberto Youssef diz que foi Paulo Roberto Costa quem determinou o repasse. Nenhum confirma que falou com Paulo Bernardo a respeito do assunto.
Por fim, a pessoa que segundo Youssef teria sido o entregador de tal recurso – também signatário de um acordo de delação premiada, diz que não me conhece e nunca teve contato com minha campanha. Está nos autos do processo, após depoimento à Polícia Federal.
Os empresários ouvidos nesses processos da Lava Jato negaram que eu tenha sido beneficiária de dinheiro desviado. Minha indignação é com a volta deste assunto, requentado, para as páginas dos jornais depois da acareação entre os dois delatores. Ambos, pelo que li na imprensa, reafirmaram o que já disseram anteriormente, ou seja, reafirmaram as contradições que estão no processo. Não há novidades.
Entretanto, vejo a repetição maliciosa das mesmas versões publicadas desde outubro de 2014, a partir de informação dada pelo advogado do doleiro. Repito que os documentos do processo não demonstram o que se divulga nos jornais.
Não tive acesso ainda às notas da acareação. Mas, repito, se os delatores confirmaram o que haviam dito antes, confirmaram as contradições. Os autos são públicos, estão na página do Procuradoria Geral da República. Qualquer jornalista que se der ao trabalho de pesquisar e ler, verá o quanto de manipulação está acontecendo neste caso.
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