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As notas de corte do vestibular da Universidade Federal do Paraná, anunciadas nesta segunda-feira, mostram os resultados de uma guinada relevante na política de cotas para seleção de estudantes. Até aqui, nos dez primeiros anos do sistema, as cotas eram decididas apenas na segunda fase, e todos os alunos precisavam atingir um mínimo “igualitário” na primeira fase.

Ao revelar os resultados nesta semana, a UFPR soltou também o quadro de notas de corte separadas por cotistas e não-cotistas. E mostrou que o novo sistema, que separa os cotistas já na primeira fase, criou uma distância bastante grande em alguns cursos. Principalmente nos mais concorridos, houve uma lacuna grande entre as notas: em Direito, a nota mínima para um cotista negro e de baixa renda foi de 17 acertos; para a ampla concorrência, chegou a 52.

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Muitos estudantes foram às redes sociais da UFPR reclamar do que consideraram uma injustiça. Os argumentos parecem ser principalmente de dois tipos. Primeiro, dizem que isso não é justo com quem tirou nota acima dos cotistas e ficou de fora. Segundo, dizem que o nível dos alunos cotistas que passaram nos últimos lugares não justificaria sua entrada na universidade. Em alguns casos, apenas “chutando” em todas as questões, seria possível entrar em cursos concorridos, como Engenharia.

Os resultados da nova política de cotas só ficarão totalmente claros nos próximos anos. Primeiro, será preciso ver quantos desses cotistas passarão na segunda fase. A redação e as provas específicas, dissertativas, não permitem “chute” e servirão para eliminar os que não tenham condições de entrar na universidade. Os que passarem, terão de enfrentar o mesmo curso que os demais: só aí se saberá se não têm condições reais de acompanhar a turma.

O argumento de que há injustiça na seleção não pode ser totalmente desprezado. É lógico que quem estudou e tirou nota alta fica chateado e se considera injustiçado. Mas aqui a justificativa da universidade (e do governo) é política. Ou seja: trata-se de uma decisão de tentar mudar o modo de dar acesso ao ensino superior público no Brasil. Pode-se alegar que a iniciativa privada receberá os alunos que não precisam de cotas (já que um dos critérios para entrar nas cotas é a baixa renda).

Ao longo das décadas, a universidade sempre foi um agente de reprodução do perfil socioeconômico do país. Quem tinha renda tinha mais facilidade de passar. Quem vinha de minorias (sociais e étnicas) tinha mais dificuldade. Não é difícil perceber isso. E não é difícil argumentar que uma instituição pública deveria trabalhar para diminuir as distâncias de oportunidade entre os cidadãos do país. Embora, claro, haja quem discorde.

A nota de corte mais baixa na primeira fase é diferente por um único motivo: é preciso saber se os alunos cotistas têm condições de frequentar as aulas. Não é uma questão desprezível. A UFPR e o governo fazem aqui uma nova investida, acreditando que o sistema atual de cotas não vinha preenchendo todas as vagas e que o sistema tem se mostrado bom para aumentar a variedade do perfil de seus alunos.

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No fundo, trata-se de um novo modelo de seleção de alunos. Antes, seguia-se unicamente o critério do mérito. Não há dúvidas de que isso causava distorção, já que “mérito” aqui era muito ligado ás condições que a loteria da vida dá às pessoas. Quem nasceu rico e estudou nas melhores escolas tem mais chance. A “meritocracia” total é bastante criticável no serviço público.

Agora, o sistema prevê três “classes” de alunos que a universidade quer promover e ter em seus cursos – os que são aprovados no mesmo sistema de antes; os de baixa renda; e as minorias étnicas. E isso de uma maneira mais profunda do que vinha acontecendo até aqui.

A nova política pode se mostrar um grande acerto. Pode vir a ser um desastre. O tempo dirá. Por enquanto, a hora parece ser de a universidade explicar bem o que pretende e de todos terem um pouco de paciência, apesar dos traumas que toda mudança traz. Educação e mudança social são ambos papéis fundamentais do governo. Resta saber se a aliança entre as duas coisas está sendo feita da melhor maneira possível.

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