
As ruas da região central e do Batel são o palco da mais nova guerra de Curitiba: a guerra da balada. Tem dia e horário para acontecer. De quinta a sábado, no começo da madrugada, o povo que ocupa as ruas em frente aos bares agora está na mira da polícia e da Guarda Municipal.
Quem mora na Vicente Machado e em outras ruas tomadas por bares reclama faz tempo. Não é só o barulho, que já é muito. O que inferniza, dizem eles, é o comportamento de quem fica no meio da rua, importunando o trânsito; e, principalmente, quem passa outros limites civilizatórios, usando a rua e a garagem alheia como banheiro, por exemplo.
Na São Francisco, no Largo da Ordem, a história já era essa. Depois que o lugar virou ponto de atração, após a reforma, o pessoal tomou não só os bares como as ruas. A história conta que começou a aparecer também gente interessada em vender drogas, e a coisa pesou. O que se fez foi colocar a polícia na área.
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A coisa tomou outra proporção quando Rafael Greca, morador da esquina da da Dulcídio com a Vicente, chegou à prefeitura. Num dos primeiros atos, mandou baixar a guarda na região, que fechou bares bem do ladinho da casa do prefeito. Era a Balada Protegida, dizia ele.
Neste fim de semana, a coisa tomou ares ainda mais assustadores. No Largo da Ordem, chegou-se a dar um tiro de munição não-letal para dispersar quem estava na rua. Sim, um tiro. Contra pessoas que aparentemente não tinham cometido crime algum exceto estar na rua.
No Batel, muito pior. O pessoal dos bares teria combinado a ação com a PM. Fechariam as portas antes das duas. O estranho do acordo era o seguinte: até ali, a polícia não faria nada. Para não interferir nos negócios? Mas depois, assim que os bares fecharam e a clientela acima de qualquer suspeita saiu, o pau comeu.
A PM fechou a região como se fossem todos suspeitos. Começou a abordagem: a Polícia Militar, veja-se, para atender uma situação de gente falando alto na rua. Vê-se que o pessoal, de fato, não era nada angelical pelo que aconteceu a seguir.
Paus e pedras, até garrafas, começaram a voar na direção dos PMs. O relato não é preciso o suficiente para saber como a coisa começou. Mas a PM não só pediu auxílio da Guarda (e agora são duas instituições policiais entrando em guerra contra os baladeiros) como tascou fogo: bombas de gás, tiros de borracha e tudo mais. Um 29 de abril noturno em meio ao Batel.
Segundo entrevista à CBN, a Guarda diz que foi tudo como devia ser. É assim que se lida com esse tipo de coisa. Os comentários na Internet dão razão: muita gente chamando o pessoal que fica nessas ruas de vagabundos e dizendo que é preciso de fato descer a borracha (o que, na opinião de muita gente, diga-se, é a solução para quase tudo).
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Fato curioso é que muitos discursos são semelhantes aos que ocorreram tempos atrás quando a cidade apavorou-se com os rolezinhos e com a chegada da periferia a shoppings de piso de granito. Seriam todos vileiros, gente que nem deveria estar ali. Estragando a felicidade de quem sabe se comportar.
Mas há também quem bote a culpa em “filhinhos de papai” e na própria classe média alta do Batel. Até que algum cientista social estude o caso, só o que se sabe é que a Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais tem uma nova história para contar: a história de uma guerra por metros quadrados de asfalto na região mais cara da cidade. Em plena madrugada.
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