Rafael Greca. Foto: Chico Camargo/CMC.| Foto:

Em dez meses de mandato, há pelo menos uma conquista que ninguém tira do prefeito Rafael Greca: dobrou completamente os vereadores da cidade e transformou a Câmara de Curitiba praticamente em um departamento de sua prefeitura.

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O primeiro semestre foi marcado pela tensão. Mas, provavelmente inspirado no que Beto Richa havia conseguido no governo do estado, o prefeito fez uma espécie de acordo de longo prazo com os vereadores. De início, eles iriam sofrer um pouco. Depois, se tudo desse certo, viveriam na fartura: é preciso morrer para ir ao Paraíso.

Sem dinheiro, Greca bolou com seu secretário de Finanças, Vítor Puppi, um pacote de ajuste fiscal pesado. Jogou duro com os servidores, comprou briga por R$ 600 milhões da previdência, mandou propostas de aumento de taxas e impostos. Tudo para ter dinheiro.

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A conta era simples: Fruet se recusou a fazer isso e ficou sem grana, tocando a prefeitura sem fazer nada que marcasse sua gestão. Levou o problema com a barriga. Os vereadores sabem como isso custa caro para quem precisa apresentar obras nos bairros.

Leia mais: Veja como cada vereador votou no ajuste fiscal

Para evitar um novo mandato de penúria, os vereadores toparam tudo: até se enfiarem no bunker da Ópera de Arame para votar sem ter o incômodo povo por perto. Aprovaram tudo que lhes foi mandado. Comeram até a última migalha do pão que o ajuste fiscal amassou. Arrocharam o que dava e o que não dava.

Feito isso, voltaram ao Palácio Rio Branco em busca da recompensa, que começa a vir agora. Mas antes disso, felizes com o Paraíso que se aproxima, toparam ainda mais uma benesse: deram R$ 35 milhões de seu orçamento contábil para a prefeitura. Claro que a paga teria de vir maior.

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Funcionou. Se antes a Câmara teve de abrir mão da publicidade em função dos desvios da era Derosso, agora a própria prefeitura paga para exaltar a Câmara. E Greca também promete colocar em cada obra um símbolo que significa que, sem a Câmara, nada estaria acontecendo na cidade.

Os vereadores, assim, começam a ter o que mostrar no Cajuru, no Tatuquara e no São Braz. “Fomos nós que fizemos, até o prefeito admite”, poderão dizer, já de olho em 2018, quando muitos serão candidatos a deputado. Quem não conseguir, pelo menos tem a esperança de um novo mandato na Câmara em 2020.

A submissão dos vereadores foi quase completa. Toparam abrir mão de sua independência, votando tudo na marra e com uma urgência que beirava a falta de sentido; aceitaram se ver invadidos pelo funcionalismo e serem xingados pela população; abriram mão até da dignidade de votar em seu próprio prédio.

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Aceitaram submeter parte de seu orçamento ao prefeito para que ele faça obras. Aprovaram absolutamente tudo que a prefeitura quis. E em nenhum momento deram um pio.

Nesta semana, como para medir a influência da prefeitura sobre a Câmara, finalmente se estabeleceu uma bancada de oposição. Dos 38 vereadores, apenas sete estão no bloco, formado por PMDB (2), PT (1) e PDT (5). Já seriam só 20% do plenário, mas é pior. Dos cinco do PDT, apenas Goura é firme na oposição. Os outros estão mais com Greca do que com o partido.

A Câmara de Curitiba sempre foi submissa aos prefeitos. Dessa vez, porém, o domínio do Executivo vem chegando a novos níveis. Qualquer dia, os vereadores entregam a chave para o prefeito e se dedicam só a ficar no bairro, apresentando obras que não são deles.

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