O ex-prefeito de Curitiba Rafael Greca migrou para o pequeno PMN. A intenção é voltar a disputar a prefeitura. A entrevista abaixo foi concedida por escrito para explicar o que ele pretende.
Por que o PMN? O partido tem poucos segundos de tevê e nenhuma base de apoio.
Por que não? Pode ser até uma virtude. Veja, a prefeitura de Curitiba já foi uma grande prefeitura, hoje está infelizmente apequenada.
Penso que assim como um grande prefeito pode fazer uma grande prefeitura, um candidato, com grande dose de amor e dedicação a Curitiba, pode tornar grande um partido pequeno. A mobilização é grande e o PMN de Curitiba já está crescendo, graças também ao esforço dos companheiros.
O povo de Curitiba precisa perceber que voto tem consequência. Se pensar, pode vir a escolher a melhor experiência, o maior conhecimento, a determinada vontade de servir.
E não a vontade de se servir da cidade, seja por cobiça, seja por vaidade.
A população já identificou que a má política é culpada pela atual crise.E que as más escolhas são sofridas depois da eleição por longos 4 anos, que podem se transformar em 8 anos de pesadelo… Esse sentimento geral já respinga nos grandes partidos, que estão muito rejeitados.
E que tal se 2016 for a vez dos pequenos partidos ficha limpa?
O PMN, primeiro partido do Brasil fundado por uma mulher, a advogada paulistana Telma Ribeiro dos Santos, aparece bem nesse cenário desolador. Está aí desde a redemocratização sem compactuar com descasos ou figurar em desmandos. Sua Executiva Nacional está limpa.
Hoje encontrar um partido sem contradições é como procurar água doce no meio do oceano.
Pelo PMN poderei ser candidato a prefeito sem atrelar o futuro de Curitiba a interesses menores. Entrei em um partido sem dono e de boa direção.
Não está na franja da Lava Jato, operação que apoio integralmente e que deixou muita vestal em situação de grave escândalo. Basta ver as fotos da campanha de 2012, que causam pavor a muitos poderosos.
Num breve relato,o PMN é o partido do urbanista Sérgio Bernardes; do Ivan Frota — pioneiro na defesa da floresta amazônica, criador do Sivan; do professor Celso Brant, criador da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e da Lei da Remessa do Lucros; do Aarão Steinbruck, criador do 13.º salário, projeto sancionado por João Goulart.
Qual o plano de coligações?
Vamos conversar, sem preconceito. Serão bem-vindos todos que aceitem nosso programa concreto de inovação e restauração da qualidade curitibana perdida.
As pessoas querem um prefeito que saiba o que fazer desde a primeira hora do primeiro dia.
Espero que tenham cansado dos prefeitos de fantasia, lançados para serem manipulados por interesses estranhos ao bem da cidade. Espero que percebam o perigo de eleger valetes, tirados no baralho viciado dos conchavos.
Espero que vejam o dano causado por candidatos sem experiência, que fazem promessas demais e não sabem como fazer para servir Curitiba. Ou pior, candidatos comprometidos com grandes corporações, homenzinhos que vendem a cidade por antecipação.
A premissa: não negociar Curitiba. Vejo nossa amada cidade inovadora, um modelo, com missão de qualidade de vida a cumprir, exemplo para o Brasil.
Curitiba deve voltar a ser Farol do Saber, modelo para a administração pública brasileira. Em 1996 ganhamos o Prêmio Mundial do Habitat, da ONU, pelo conjunto das ações humanitárias então empreendidas. Naquele ano, o BID fez comigo um seminário Curitiba – o Bom Exemplo – em Washington para todas as cidades das três Américas.
O sr. conversou com o senador Requião? Ele confirmou o lançamento do filho?
Continuo tendo apreço pela trajetória do governador e senador Requião. Ele não é o problema, o problema é a profunda divisão interna do PMDB no Paraná, agravado pelas contradições externas do PMDB nacional.
O sr. voltou ao Ippuc? O que anda fazendo por lá?
O IPPUC é extensão da minha casa. Sou concursado, entrei lá em 1981, com a nota máxima no concurso público. Já tenho tempo de trabalho para me aposentar, mas a greve do INSS impede. Marcaram minha audiência de revisão para o dia 31 de dezembro, às onze da manhã.
Estou finalizando trabalho técnico de urbanismo, história e geografia com diretrizes para embasar um “Plano de Zoneamento Arqueológico de Curitiba”. Para instruir futuras obras subterrâneas, de forma a impedir a destruição de testemunhos da antiga ocupação urbana.
Trata-se de fascinante percurso desde as atas de fundação (1693), o testamento de Baltazar Carrasco dos Reis (1697) legando a sesmaria do Barigui, os provimentos do Ouvidor Pardinho e a demarcação do Rocio da Vila de Curitiba (1721), até as recentes ocupações do vale úmido onde o Rio Barigui deságua no Iguaçu, lá depois do Tatuquara e da Caximba (2010).
Aliás, esta última ocupação é uma tragédia anunciada: favela sobre palafitas, que flagela Curitiba e os que ali sofrem grave abandono.
No Ippuc, aproveito para fazer o que mais gosto, estudar e projetar Curitiba.
Reconheço que isto, infelizmente, não cai na prova eleitoral como deveria. Seria interessante que os candidatos a prefeito fossem submetidos a um concurso sobre as questões urbanas. Isso facilitaria o voto do eleitor e melhoria bastante as cidades.
Um prefeito tem que conhecer bem a sua cidade, não apenas agarrar-se no poder financeiro que tornou a política mera alegoria da economia.
Rápida leitura do novo Plano Diretor de Curitiba, que está na Câmara para votação, mostrou-me que ainda há inteligência urbana no IPPUC. Se prefeito voltar ser, saberei usar os instrumentos propostos: IPTU progressivo para imóveis abandonados, Cotas de Interesse Social em empreendimentos imobiliários, Operações Consorciadas de Redesenvolvimento Urbano.
O senhor é um crítico da gestão Fruet. Qual sua principal crítica?
Imobilismo. Estamos assistindo à derrocada de um prefeito desorientado e engessado com erros estratégicos que não dá mais tempo para consertar.
Se suas apostas no cassino político tivessem trazido resultados para Curitiba, melhores serviços e obras, teria meu aplauso. Mas infelizmente isso não aconteceu. Fruet fez apostas que não deram certo. De nada adiantou aninhar-se no colo do PT e de seus pródigos patrocinadores Gleisi e Paulo Bernardo. Hoje, estamos praticamente zerados em estoque de projetos de futuro.
O governo Dilma é avarento com a Cidade de Curitiba. Quer um exemplo? Os R$ 10 milhões de recursos SUS atrasados no ressarcimento devido ao Hospital Pequeno Príncipe.
A prefeitura de Curitiba é refém de interesses alheios à sua história. Jamais poderiam ter desintegrado a Rede Metropolitana de Transportes. O povo sofre com isso.
Aquilo que Fruet chama de “herança maldita” do Ducci já deveria ter sido debelado. Passaram-se 3 anos. O tempo voa.
A pendência com o ICI arrasta-se. Uma cidade não pode ter donos ou subdonatários. O ex-CPD do Ippuc virou propriedade particular. Hoje nem a base de dados de lançamento de Impostos – IPTU, ISS, ITBI – dívida ativa, alvarás, prontuários de saúde, pertence mais ao município – li isso aqui na Gazeta. Estranho o Ministério Público não ter se manifestado a favor dos curitibanos.
Será que esse absurdo adonamento do lançamento de impostos não influi na quebra de arrecadação?
Arrasta-se a pendência com o Atlético e sua Arena, o BNDES e o governo do Estado. Tanto quanto as intermináveis obras na praça Afonso Botelho. O que fizeram para a Copa foi destruído, estão fazendo obras de novo.
O fechamento do FAS S.O.S., da rua Conselheiro Laurindo, transformou o centro da cidade num depósito de desvalidos, uma cracolândia em construção. A piada pronta foi mandarem pôr grades no módulo policial da Praça Osório que tinha virado “estúdio” de morador de rua.
A gestão da Saúde acumula óbitos por omissão de socorro, a última vítima foi D. Maria da Luz das Chagas dos Santos na UPA da Fazendinha. O secretário de Saúde Massuda teve uma “queda para o alto”, promovido ao Ministério do PT em Brasília. Há dívidas preocupantes com os hospitais prestadores do SUS.
As promessas de mais creches não foram cumpridas. Não dá mais tempo para cumprir o prometido.
Neste último domingo ardeu em chamas, abandonada, a casa histórica da Rua Paula Gomes com Duque de Caxias, propriedade da prefeitura que abrigava moradores de rua e cracolândia, na frente do Bar do Torto.
Na democracia, a crítica e a oposição também são parte do serviço público.
Faz mais de 12 anos que um prefeito não comparece ao Ippuc, para discussão de projetos. Isto acarreta imobilismo da gestão diante da avalanche de problemas que afligem os curitibanos. Talvez faça falta a formação urbanística e humanitária dos gestores. Governar bem não é posar para marketing, nem comprar pesquisas favoráveis.É exercer competências técnicas e políticas.
Fruet diz não haver dinheiro para grandes obras no momento. Como enfrentaria isso?
Faria um pouco de cada vez, e no final, teria feito o impossível. Terminava a Linha Verde. Faria as obras de requalificação do Interbairros II, que ficaram na promessa. Já teria deixado Tudo Limpo. E me ocuparia dos seres humanos que estão abandonados pelas ruas. Ou pondo fogo em casas históricas abandonadas.
Está proibido o uso da tração animal em Curitiba. Muito bem. Parabéns. É importante combater a crueldade contra os animais, mas é fundamental combater a crueldade contra as pessoas. E elas deambulam, às centenas, caídas pelas ruas de Curitiba. Como dói.
Concorda com as medidas para incentivar outros modais de transporte além do carro?
Em tese é bom. O trânsito pautado pelo respeito à vida é muito bom. Mas ainda dá a impressão que as ciclorrotas, mal traçadas, oferecem jovens ciclistas em sacrifício. Tem havido muitas mortes, ciclistas imolados.
Bons engenheiros seniores desconfiam seja impossível andar todo o anel central a 40km/h. Um solavanco, um buraco – e são tantas crateras, tantos remendos no asfalto – o carro autoacelera, até por inércia. Será que a prefeitura atual sabe disso e quer multiplicar a arrecadação com multas de trânsito? Será que persiste a perversa indústria da multa, em malandra versão?
Como enfrentar a licitação mal feita do ônibus?
Destruir a integração da Rede Metropolitana de Transportes foi retrocesso. Tem que questionar o contrato Richa/Ducci, mobilizar a população, o Ministério Público. O que não dá é para cortar a qualidade dos serviços.
Deu a impressão que Fruet e Richa brigaram pelo domínio da arrecadação das empresas de bilhetagem automática. Andamos para trás. Retrocedemos.
E o que dizer do sucateamento da frota? Ônibus vivem pegando fogo nas linhas. Já são 183 os ônibus com vida útil vencida em circulação na cidade de Curitiba. Quase toda semana tem uma ocorrência grave, de autocombustão dos ônibus a desastres por falha mecânica. Faz três anos que Curitiba não tem ônibus novos.
Sequer terminaram o realinhamento de estações dos biarticulados. Melhorias no Interbairros 2 são mais uma promessa ainda não cumprida. Não fizeram o Metrô e, por fim, destruíram o que tínhamos de melhor, a justiça social da tarifa integrada. O povo está sofrendo.
E o metrô? Faria hoje?
Se um dia Brasília mandar o dinheiro, o metrô deve ser feito, em escala metropolitana, aéreo, movido a novas energias, complementar à rede de transportes existente. Mais fácil, mais barato e mais rápido de implantar. Como desenhei e propus em 2012. Precisa fazer criterioso estudo, com pesquisa séria de origem e destino dos passageiros.
O problema é que descreio, porque conheço os maus costumes e desvios de Brasília. Sei que esse dinheiro não virá mais para Fruet. O dinheiro minguou na proporção em que o PT – que financiou e elegeu o prefeito – foi sendo encarcerado.
Os problemas de Curitiba estão em um prefeito sentado e imóvel que não sabe dar o passo adiante. Acumulam-se erros estratégicos e lamúrias. Vamos ter que recomeçar tudo da estaca zero. A herança de boas ideias “foi pro saco”, como se diz na periferia, cada vez mais violenta porque foi abandonada pelo poder público.
A luz que já brilhou em Curitiba, pode ser reacesa. Basta a população, em sua maioria, querer.
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