Bloqueio na JK: trabalhador quer ter voz.| Foto:

Há mil explicações para qualquer coisa. Ainda mais quando você pega um movimento complexo como uma greve geral que para boa parte de um país em meio a impeachment, investigações de corrupção e reformar que mexem com a vida de milhões. E o mais provável é que várias das explicações tenham sua parte de razão.

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Mas há mais uma que não deve ser jogada no lixo. E é a mesma explicação que foi usada por muita gente boa para explicar o que aconteceu no fatídico 29 de abril de 2015 no Paraná – que, por uma dessas coincidências da vida, faz aniversário neste sábado. Para quem não lembra, foi aquele dia em que a polícia militar deixou 113 manifestantes feridos. Gente que tentava impedir os deputados estaduais de meter a mão no dinheiro da previdência em nome do ajuste fiscal de Beto Richa.

Pouco tempo depois dos fatos, o curso de filosofia da UFPR fez um evento para discutir o que afinal tinha ocorrido naquele dia de pandemônio. E uma conclusão foi quase unânime: tem momentos em que a população simplesmente não se sente representada pelos políticos profissionais que ela mesma colocou nos cargos. Há um sentimento generalizado de que forças externas (financeiras, políticas, empresariais) trabalham em conjunto para aprovar propostas que a maioria da população, se consultada, jamais aprovaria.

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Não é nenhuma teoria da conspiração. Nem implica dizer que a democracia não funciona. Mas é fácil de constatar que entre uma eleição e outra os políticos têm quatro anos em que pouco precisam prestar contas à população. (Aliás, não deixa de ser curioso que a reforma trabalhista tenha sido aprovada pelas 513 pessoas que têm os melhores empregos do país. Estabilidade; passagens para ir para casa não de ônibus, e sim de avião; comparecimento exigido só em três dias da semana; férias duas vezes por ano; etc.)

E nesse tempo eles podem atender a outros interesses que não necessariamente são os dos seus eleitores. Veja bem: o ideal, numa democracia, seria que grandes reformas fossem discutidas amplamente. Mas essas (assim como as de Beto Richa em 2015) não foram discutidas com ninguém. Estão sendo impostas na força bruta. No melhor espírito deixe-que-a-gente-sabe-o-que-é-melhor-pra-vocês.

Veja só. O governo atual não foi eleito com essa plataforma. Até porque Temer não foi escolhido como presidente (não, não estamos discutindo se foi golpe: o fato é que ele era candidato a vice numa chapa que tinha plataforma exatamente oposta à que está aplicando). Ao assumir, Temer simplesmente virou 180 graus. Sem perguntar a ninguém se devia fazer isso.

Sem discussão

As reformas não foram discutidas em audiências públicas. Não houve seminários. Não houve debates. Não se está propondo plebiscito nem referendo. Na verdade, o governo parte do princípio de que precisa fazer isso. E que a população precisa aceitar. Isso num momento de legítimo questionamento da legitimidade tanto do Executivo (não eleito) quanto do Legislativo (enfiado até o pescoço em denúncias).

Querer que o trabalhador simplesmente assista impassível sem poder nem sequer dar um palpite parece estranho. No mínimo, faz sentido que o caboclo se irrite com a possibilidade de ver sua vida tornada pior. E que vá às ruas para se fazer ouvido do único modo que consegue: deixando de dar, nem que seja por um só dia, aquilo que tem para oferecer, o seu trabalho. Uma greve. Uma greve geral.

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