Exatos cem anos atrás o Brasil viveu sua primeira greve geral. Curitiba, assim como São Paulo e outras cidades, teve paralisação de trabalhadores que pediam normas de proteção. Em 1917, claro que os pedidos eram muito diferentes. Mas o historiador Ricardo Marcelo Fonseca, hoje reitor da UFPR, diz que a greve tem lá suas lições para o Brasil de hoje.
“É claro que as coisas que os trabalhadores da época pediam hoje parecem banais para nós. Que as crianças não trabalhassem tanto quanto os adultos, por exemplo. Nesse sentido, fica difícil qualquer comparação”, afirma o professor, que é coautor de um livro sobre o movimento de 1917 em Curitiba.
O movimento de 1917, inspirado no anarco-sindicalismo, também foi muito mais violento, com pontes quebradas para interromper o fornecimento de carne e suspensão do serviço de energia elétrica, por exemplo. “A ideia de greve desse pessoal era outra. Não era simplesmente parar. Era virar a sociedade de cabeça para baixo.”
Segundo Ricardo Marcelo, o que a greve de 1917 mais tem a dizer para o Brasil atual está na relação existente entre os protestos e o estabelecimento das leis trabalhistas. “Existe um mito do Getulio Vargas outorgando a CLT como pai dos pobres. Como se estivesse dando aquilo para os trabalhadores. Mas aquilo foi conquistado com sangue, suor e lágrimas”, diz ele, lembrando que os anos seguintes a 1917 também foram marcados por outras greves e manifestações.
Para o professor, a história dos direitos trabalhistas no Brasil – e em todo o mundo – não pode ser dissociada da luta por esses direitos. “A legislação trabalhista apareceu não porque o Getulio quis. Os próprios governantes da Velha República já tinham começado a ceder. Por causa da pressão. Gente morreu por isso”, diz ele.
Como reitor da UFPR, o professor diz que não tem se manifestado muito publicamente sobre as reformas em andamento no país. Mas como historiador, ele diz que é necessário lembrar que a própria conquista de se incluir na Constituição de 88 o direito de greve como algo fundamental veio das lutas de operários ao longo das décadas seguintes a essa primeira greve.
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