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Soube hoje da notícia que mais me deixou irritado com o atual governo brasileiro. Em oito anos, nunca tinha ficado tão decepcionado com o presidente Lula: nem com o mensalão.

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A notícia está no Correio Braziliense. É a manchete de jornal. E diz assim: Brasil mexporta bombas para países em guerra. Simples assim. O texto, já na capa, revela: foram mais de 700 toneladas de material bélico vendidos para países em conflito nos últimos dez anos.

A bela matéria do Correio, assinada por Solano Nascimento,

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mostra o caso do Sri Lanka, que vive um conflito entre o sul, budista, e o norte, hinduísta. Massacres foram realizados no país. E, em parte, com bombas nossas. Eis o trecho inicial da reportagem:

No fim de 2008 e no primeiro semestre do ano passado, as Forças Armadas do Sri Lanka realizaram a ofensiva final e mais sangrenta contra os separatistas tâmeis do Norte do país, produzindo o que organizações internacionais consideraram uma das maiores crises humanitárias de 2009. Por conta do ataque, o governo do Sri Lanka foi acusado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de cometer crime de guerra e violar direitos humanos. “Os aviões chegavam jogando bombas, e nós corríamos para os abrigos”, conta Karmenkam Thaviththra, uma adolescente franzina e tímida, de 14 anos, que morava em Kilinochchi, cidade semidestruída pelos bombardeios, e hoje vive em um acampamento para refugiados. “A gente caminhava entre os corpos, alguns sem mãos, outros sem cabeça.” O Brasil contribuiu para a tragédia.

Esse tipo de exportação precisa ser autorizado pelo governo. E, quando indagado, o Iatamaraty é de uma desfaçatez incrível. Diz, basciamente, que se o país não vender alguém venderá. Ou seja: estaríamos perdendo negócios!

A existência de conflito armado, de natureza étnica e religiosa, não é um empecilho para a venda, confirma Norton Rapesta, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty. “Isso é analisado caso a caso”, afirma. “Vamos deixar de ser vestais, se o Brasil não vender, outro vai vender”.

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A matéria mostra que a venda de material bélico para países em conflito já existia antes do atual governo. Na época de Fernando Henrique, um país em guerra recebia material brasileiro por ano. No primeiro mandato de Lula, a proporção subiu para três por ano. No segundo, para cinco.

Lucrar com guerras étnicas, com massacres de civis e com o sofrimento de populações minoritárias é possivelmente a coisa mais bárbara que um país pode fazer (com uma única exceção: ser o autor dos massacres).

Lembro sempre quando li pela primeira vez sobre o massacre de Ruanda, no belíssimo livro Gostaríamos de informar que amanhã seremos mortos com nossas famílias, de Philip Gourevitch, o quanto era revoltante a participação do Ocidente no massacre. Em 100 dias, foram mortas 800 mil pessoas. Os países ricos não apenas não impediram o massacre. Venderam também o material para a guerra civil, com a França a frente.

Não imaginava que o nosso governo pudesse seguir esse caminho. A matéria do Correio mostra o quanto nossos governos, incluindo o atual, estão se deixando levar por uma política exterior vil, truculenta, bárbara.

Hoje, tive vergonha de meu país.

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