A prisão do delegado Rubens Recalcatti causou indignação em muitos curitibanos. Desde a manhã desta terça-feira, quando foi divulgada a informação de que o delegado foi detido pelo Gaeco, sob acusação de ter participado de um homicídio, internautas passaram a comentar o tema – majoritariamente defendendo o delegado e criticando o Gaeco.
Os comentários nas redes sociais dizem que o delegado, caso tenha mesmo participado de um homicídio, estaria com a razão, já que, segundo as informações disponíveis até o momento, o homem assassinado era ele próprio suspeito de homicídio.
Basicamente, os internautas têm respondido à notícia com o velho chavão de que “bandido bom é bandido morto” e indignados com a prisão do delegado, conhecido como linha dura. Têm sido comuns os comentários dando “parabéns” a Recalcatti caso ele tenha mesmo assassinado ou participado do assassinato de um homicida.
Os comentários reforçam o que mostra uma pesquisa recentemente divulgada pelo Datafolha, que mostrou que metade dos brasileiros concorda com a afirmação de que “bandido bom é bandido morto”.
A pesquisa mostrou que nos três estados da Região Sul a concordância com a afirmação é ainda maior do que em outras regiões do país, com 54% dos entrevistados dizendo a favor da frase.
Curiosamente, é possível defender que os internautas que defendem o assassinato de criminosos estão cometendo eles próprios um crime. No Brasil, a lei proíbe a apologia ao crime. Quem elogia um assassinato, portanto, está incidindo no artigo 287 do Código Penal.
Ou seja: o delgado Recalcatti, embora tenha sido preso, ainda tem chance de se defender e pode até mesmo, no futuro, comprovar sua inocência. É isso que o Estado de Direito garante. No entanto, os internatutas que estão pedindo a morte de criminosos sem julgamento (e num país onde nem existe formalmente a pena de morte, já que ela é vedada pela Constituição), estão, estes sim, cometendo nitidamente um crime.
No fim das contas, é exatamente por isso que o assassinato praticado por policiais ou por civis que “fazem justiça com as próprias mãos” é proibido em qualquer democracia. A prisão, o devido processo legal, o direito à defesa, que serão garantidos ao delegado Recalcatti, devem ser estendidos a todos.
Caso contrário, qualquer um pode sair matando suspeitos de crimes e ninguém mais terá controle sobre como funciona a Justiça. Cai-se numa situação delicada em que a polícia pode, por exemplo, imputar um crime a alguém simplesmente para se livrar de alguém “incômodo”.
É o que parece que aconteceu em São Paulo, recentemente, onde, segundo o próprio governo do estado, policiais militares teriam participado da execução de 23 pessoas inocentes em cidades da região metropolitana da capital.
É possível dizer, inclusive, que o fato de haver tanta gente defendendo a violência policial é que leva PMs e policiais civis a agirem de maneira truculenta sem que sejam punidos, o que só aumenta a espiral de violência no país.
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