Da coluna Caixa Zero, publicada nesta segunda-feira, na Gazeta do Povo:
O ex-ministro José Dirceu andou convocando a moçada da UNE a defendê-lo. Em discurso neste fim de semana, no Rio de Janeiro, poucos dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter anunciado que, enfim, vai julgá-lo, Dirceu falou que quer o povo nas ruas para impedir a sua condenação. Disse que não se pode deixar que esse seja o julgamento “de sua geração” (Geração? Quem é julgado é o suspeito do ilícito, e só).
Dirceu quer que o julgamento se pareça com uma guerra. Aliás, seu discurso foi cheio de metáforas bélicas. “Todos sabem que essa é uma batalha política”, disse. E, como tal, afirmou Dirceu, é preciso que seja “travada” também nas ruas. Caso contrário, disse ele, vai se ouvir apenas uma voz, que seria a do “monopólio da mídia”, pedindo a condenação “mesmo sem provas”.
Mais adiante, Dirceu quis parecer moderado e falou que deseja apenas que o julgamento se limite aos autos, que as provas é que contem. Ou seja: ele não quer um julgamento político, entende-se, mas meramente técnico. O que contradiz a afirmação imediatamente anterior do ex-ministro, é claro. Dirceu quer o povo nas ruas justamente para transformar o mensalão e seu julgamento numa guerra política. É ele, com sua exortação à UNE, que tenta politizar a coisa.
(Aliás, não só ele: Lula e Gilmar Mendes, cada um à sua maneira, também já andaram politizando bastante a coisa, independentemente de qual relato do encontro dos dois estiver correto. Se Lula estiver falando a verdade, já nem deveria ter procurado o ministro na época do julgamento mais importante de sua vida, mesmo não sendo réu. Aliás, procurou metade do STF. Se Mendes estiver correto, o desastre é maior. E nos dois casos Mendes agiu errado, ou por denunciar uma falsidade ou por só abrir a boca um mês depois do ocorrido.)
O direito de espernear é garantido a todos. Até a ré confessa do caso da Yoki não gostou da cela que lhe foi destinada. Faz parte. Mas Dirceu não tem como saber se o julgamento será politizado. Aliás, o PT indicou oito dos 11 ministros do atual STF. Portanto, se houvesse politização, o mais provável é que pendesse para o lado dele.
Dirceu quer posar de coitado. Faz o discurso típico de quem acha que, por ter uma ideologia, por “estar do lado do bem”, pode fazer tudo. E que, quando é pego fazendo o que não deve, grita que era por uma boa causa. Ou que estão lhe armando uma para que “a mídia” e sabe-se lá mais quem possam derrubá-lo e colocar de novo seus inimigos no poder. Não é assim. O STF é o órgão responsável pelo julgamento. Nem pode ser a mídia a julgar, como acusa Dirceu, nem podem ser os estudantes na rua.
De resto, o argumento de Dirceu de que uma condenação seria “sem provas” é duro de engolir. Se não há provas, por que Lula, o próprio presidente, foi à tevê em 2005 pedir desculpas? Por que Lula disse que foi traído? Por que o próprio Dirceu teve de sair do cargo?
Que o julgamento do mensalão ocorra é uma ótima notícia. O país tem o direito de saber o que houve. Quais provas há. E quem tem culpa de que. Dirceu só falou uma coisa importante: que o julgamento seja técnico. O resto é simples berro. E ganhar no berro não faz parte da democracia.
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