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Kit de fiscalização

Da coluna Caixa Zero, publicada hoje, na Gazeta do Povo:

Me incomoda profundamente o silêncio em torno do escândalo da Assembleia. As denúncias estão aí. O escândalo, na minha opinião, é o maior da história política do Paraná. A imprensa bate na tecla todos os dias. E cadê a mobilização popular? Foram mais de 30 dias de matéria já. E só o que aconteceu foi a manifestação dessa semana, em que um grupo invadiu a sede do Legislativo, cantou o Hino Na­­­cional e cobrou mudanças. Um único ato de civismo, num estado com 10 milhões de pessoas. É muito pouco.

Veja bem: não digo que tenhamos de fazer a revolução. Nem defendo atos que ultrapassem os limites do civismo. (Arrombar o portão já foi um limite perigoso.) Mas alguma coisa tem de ser feita. Gostaria de sugerir algumas ideias para o leitor que poderiam ajudar a cobrar dos nossos deputados uma postura um pouco menos patética em relação ao problema. Então, aí vai:

1 – Seria preciso que muita gente fosse à Assembleia todos os dias. Há sessões segunda, terça e quarta-feiras. As de quinta eles já dispensaram, decerto acreditando que trabalhar quatro dias da semana seria demais para eles. As galerias deviam estar cheias de cidadãos. Associações, sindicatos, movimentos estudantis têm o dever cívico de ajudar a cobrar uma postura decente do Legislativo.

2 – Quem não puder ir à Assembleia, pode ver de casa. Ligue a TV Sinal. Pode parecer uma tortura, mas não é. (O pessoal que estará nas galerias pode até se encarregar de deixar a sessão mais animada).

3 – Acompanhe o deputado em que você votou na última eleição. Ele está lá? Veja se ele não está fazendo discursos indecentes. Na semana passada, por exemplo, o deputado Luiz Carlos Martins fez o mais equivocado discurso de defesa da Assembleia. Confundiu a defesa do Legislativo (que é necessária), com a defesa dos deputados (que não é).

4 – Aproveite e anote o no­­­­me dos deputados que fazem declarações admitindo ilegalidades. Nesta semana, foi o caso de Jocelito Canto. Do meio do plenário, cercado de colegas deputados, ele perguntou quem ali não tinha um caixa 2. Ele tem de responder por uma frase dessas, em que se admite um crime. E os outros deputados? Como alguém observou–não teve um para levantar a voz e dizer: “Não, Jocelito. Eu não tenho caixa 2”. Anote o nome daqueles em que a carapuça parece ter servido. (Separe um caderno grande…)

5 – Uma sugestão: lembro do caso da tentativa de venda da Copel, quando colocaram em praça pública um painel com o nome dos deputados que eram a favor da privatização. Por que não fazer um painel com os deputados que têm inocentado Nelson Justus, Alexandre Curi e os demais pares mesmo antes de a investigação ser feita? Na Copel, evitou-se a venda. Aqui, poderíamos evitar que a investigação morra na casca.

Tenho certeza que se algum deputado estiver lendo esse texto vai dizer que estou incentivando a barbárie, o linchamento, a invasão da Assembleia, etc. Portanto, deixo bem claro antes de encerrar. Não é nada disso.

O que eu defendo é o direito à cidadania. O que eu defendo é o dever de cobrar de nossos representantes uma postura ética, correta e menos corporativista. Há horas em que, para fazer isso, é preciso ir às ruas. Defendo que esse é o momento de fazer isso. Com educação e civilidade, é preciso lembrar aos deputados que eles têm de estar à altura de seus eleitores e da Assembleia. Ou ficaremos olhando os fatos acontecerem sem ter o gosto de participar?

Marcelo Elias/Agência de Notícias Gazeta do Povo
Ocupação da Assembleia: bom exemplo de cidadania num momento em que todos parecem apáticos.

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