Faz um mês que Lula esteve em Curitiba. Causou comoção. O depoimento do ex-presidente a Sergio Moro foi visto como o grande momento da Lava Jato até então. E fazia sentido: um ex-presidente, mesmo só depondo, é de maior interesse do que outros políticos presos. Mesmo se for o presidente da Câmara, ou o líder do Senado. E Lula é Lula: mesmo em baixa, tem um cacife imenso.
Mas neste mês muita coisa aconteceu. Entre 10 de maio e 10 de junho o país passou por mais um terremoto político. E a causa disso foram os irmãos Batista, donos da JBS, que fizeram a mais ousada delação de todas, colocando na roda, entre outros, o atual presidente da República, Michel Temer. E, de quebra, Aécio Neves, presidente nacional do PSDB. Para Lula, isso foi uma péssima notícia.
Em seu depoimento a Moro, Lula insistiu o tempo todo em uma teoria. A de que a Lava Jato tinha como principal objetivo colocá-lo na cadeia. Acabar com sua moral. Eliminá-lo da política. O resto todo seria pretexto, seria caminho. Lula disse que nunca alguém tinha sido vítima de tamanha perseguição judicial e midiática no país. E mostrou dados sobre o Jornal Nacional, a Veja, outras emissoras.
Acontece que Temer e Aécio, mesmo não tendo o mesmo prestígio popular que Lula, são pesos pesados. Temer, de um jeito inusitado, chegou à Presidência. E Aécio quase chegou lá pelo voto popular, com apoio de mais de 51 milhões de brasileiros. Um é do PMDB – e embora tenha feito campanha com Dilma, virou o cocho de maneira inédita e radical. O outro vem fazendo o papel de líder antipetista.
Com isso, Lula perde seu maior argumento. Ou, pelo menos, o argumento perde força. A Lava Jato chegou ao PSDB, derrubou seu presidente, colocou na cadeia Andréa Neves, forneceu provas que poderiam ter tirado Temer da Presidência (caso o TSE não tivesse perdido os dentes de propósito na última hora). A teoria de conspiração (meramente) antipetista ficou mais frágil. Se isso muda alguma coisa no julgamento de Moro? Imagina-se que não. Mas em breve se saberá.
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