O verdadeiro Lula, em 1978. Foto: Pedro Martinelli.| Foto:

Nos anos 1970, era comum ouvir falar que Paul McCartney tinha morrido. O sujeito que tocou nos últimos discos dos Beatles era um sósia. Havia vários recados nas capas dos discos e sei lá mais onde para provar: um baixo feito de flres de cemitério no Sgt. Pepper’s, uma placa de carro no Abbey Road.

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Paul estava mortinho da Silva. Esse que está aí é um outro.

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No caso de Lula, talvez seja a hora de começarmos a procurar os indícios, os recados ocultos. Talvez aquela estrela de flores que dona Marisa fez no gramado do Palácio? Pode ser um começo.

Fato é que os indícios são muito mais fortes do que no caso do McCartney. Porque o sujeito que anda por aí vestido de Lula, hoje, tem muito pouco a ver com o Lula dos anos 1980 e 90.

Quem é este?

O Lula que o país conheceu no final da ditadura era um sujeito que criticava o autoritarismo, defendia a democracia, batia na Arena. Era um sujeito de esquerda, com valores de que você podia não gostar, mas que parecia fiel a eles. Foi até para a cadeia pelo que acreditava.

O Lula de hoje é um sujeito que fez acordo com todo mundo que andava pela Arena. Para eleger um prefeito de São Paulo, fez foto apertando a mão de Paulo Maluf. Acolheu o PP no governo, assim como várias outras sublegendas da Arena.

O Lula de hoje está longe de ser de esquerda. Implantou programas sociais, é verdade, aumentou a verba destinada aos mais pobres. Mas fez conluios com o centro e a direita a todo momento para garantir aquilo que passou a ser central na vida desse seu dublê: a permanência no poder.

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O Lula de hoje não pode nem mesmo ser o de 2005 que, ao saber do mensalão, acreditou que aquilo havia mesmo acontecido. Que foi à tevê dizer que fora iludido, enganado pelos seus. Porque o Lula de hoje diz que mensalão não houve, apesar de todas as provas. E diz que não houve crime nenhum em nenhum governo do PT.

Como pode o sujeito que via crime em tudo, em todos os governos, hoje dizer que simplesmente estava tudo bem enquanto as empreiteiras usavam um cartel para dominar o país – justamente enquanto ele, supostamente (mas hoje sabemos, era outro), governava?

É impossível.

O Lula que foi preso por lutar contra um governo que achava que podia tudo e que passava por cima da lei e da ética para permanecer no poder não é esse sujeito que anda por aí hoje. Não pode ser.

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Séquito fiel

E não estamos nbem falando de um mísero apartamento no Guarujá. Se era dele ou não era. Se há provas disso ou não há.

O que é espantoso é a quantidade de gente que ainda não percebeu a troca. E que vai às ruas, às redes sociais, defender um sujeito que tolerou o intolerável, a corrupção de um governo, o desvio de bilhões da Petrobras, a indicação de ladrões para postos altíssimos da República – como se ainda fosse aquele velho sindicalista do ABC.

Este é um país livre. Quem quiser defender Lula que defenda. Quem acha que ele deveria voltar a ser presidente tem todo o direito.

Mas a má notícia é que aquele Lula com que você sonha não existe mais. O que existe é uma espécie de Maluf com discurso social, um sujeito que virou a casaca e se tornou igual àqueles que criticava – mas que, sabe-se lá por meio de qual mística, conseguiu manter o apelo para parte imensa do país.

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