Curitiba tem tudo para viver uma quarta-feira inesquecível. Dessas de a gente lembrar daqui a décadas. De nossos filhos estudarem na escola. Como as Diretas Já. As passeatas pelo impeachment de Collor e de Dilma. Ou (tomara que não) o 29 de abril de 2015. Um daqueles raros momentos em que a gente tem certeza de estar, de fato, observando a História.
Claro que quando a História está acontecendo a gente não tem o distanciamento que tem em relação aos fatos de décadas atrás. E é natural que as pessoas levem o assunto do dia mais a sério, que tenham uma reação mais “visceral” ao que está acontecendo. Isso, afinal, é ser cidadão. Se importar com as coisas de seu tempo.
Mas ser cidadão é bem diferente de ser histérico. E tem muita gente fazendo histeria pró-Lula, assim como tem muita gente fazendo histeria anti-Lula. Tem quem faça isso a soldo, e nesse caso não há chamado à razão possível. Mas tem quem possa só estar confundindo as coisas. Por isso, não custa nada um guiazinho sobre o que está de fato em jogo nesta quarta para você não estar se exaltando à toa.
Se você odeia Lula
– O que está em julgamento na ação não é o governo de Lula, muito menos a vida toda dele. Esqueça o petismo, o bolivarianismo, a esquerda e o comunismo. Não se trata de Marx nem de Pol-Pot. Só o que se está julgando é se o ex-presidente cometeu um crime de corrupção nos pontos especificamente apontados pelo Ministério Público.
– Pode muito bem acontecer de Lula ser culpado e de não haver provas suficientes para que ele seja condenado ou preso. Isso faz parte do regime democrático e querer que alguém vá preso se não houver culpa ou se não houver provas é o mesmo que defender um Estado de exceção.
– O fato de você odiar Lula não transforma Sergio Moro em herói, muito menos em super-homem. É claro que o juiz tem seus méritos por enfrentar um caso de corrupção que aparentemente não tem fim e mexeu com o país. Mas ele, como todo mundo, é humano e pode errar. Dizer que Lula é culpado não implica acreditar na infalibilidade de Moro, Deltan, da PF ou seja lá de quem for.
– Há gente que votou em Lula (ou ele não teria sido presidente duas vezes). Há gente que ainda votaria em Lula (ele é líder nas pesquisas de intenção de voto para o ano que vem). Essas pessoas não são tuas inimigas. Elas meramente pensam diferente de você, o que é legítimo numa democracia. Você acha que elas estão enganadas? Ok. Elas podem pensar o mesmo de você. Divergência é saudável, mas respeito é ainda mais.
– Se Lula for condenado isso não quer dizer absolutamente nada sobre, por exemplo, as políticas sociais do governo dele, que têm de ser julgadas de outra forma. Lula é uma pessoa – e não são as falhas dele que implicariam uma falha de todo um conjunto de ideias defendidas por outras pessoas.
Se você é fã de Lula
– O que está em julgamento na ação não é o governo de Lula, muito menos a vida toda dele. Só o que se está julgando é se o ex-presidente cometeu um crime de corrupção nos pontos especificamente apontados pelo Ministério Público.
– Lula é um ser humano como todos os outros. Pode muito bem ser que ele tenha feito coisas que você considere sensacionais na economia, na assistência social, na educação e tenha caído em tentação. Todo mundo está sujeito. Convenhamos: Lula não é santo. Por um simples motivo: ninguém é.
– O fato de Sergio Moro ser o juiz da ação não o transforma num demônio, por mais que você ame Lula. O juiz é pago para julgar. Antes de julgar, tem que ouvir a pessoa denunciada pelos procuradores. Isso é absolutamente trivial num processo. Claro que ele também pode errar. Mas assim como é tolice os detratores de Lula acharem que ele erra sempre e em tudo, querer demonizar Moro é uma bobagem. Ele não é um infiltrado da CIA, do FBI nem da NSA. Isso é mera parolagem de internet e da Marilena Chauí.
– Tem gente que odeia o Lula. Que jamais votaria nele. E, quer saber? Isso é direito dessas pessoas. Elas podem pensar diferente de você e de quem quiserem. A isso dá-se o nome de democracia.
– Se Lula for condenado, a vida segue. Haverá outros líderes. E aliás está mais do que na hora de a esquerda não ficar dependente de um único líder para o restante dos tempos.
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