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Lula, FHC, Verissimo e o mandarinato

Luis Fernando Verissimo escreveu uma crônica em 2002 dizendo o que muita gente achava sobre o governo Fernando Henrique Cardoso. Dizia que o presidente fez uma aliança com a elite do país esperando ajudá-la para fazer o governo que ele queria.

A conclusão do cronista é que FHC tinha dado um tiro que saiu pela culatra: a elite é que aproveitou a aliança para governar por ele.

Ontem, no comício em Curitiba, Lula disse que os ricos nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil quanto em seu governo. E fiquei pensando se, pelo menos em parte, a metáfora do mandarinato não serve para ele também.

Veja a crônica, publicada em 19 de fevereiro de 2002:

“O PT discute a conveniência das alianças eleitorais, assim, heterodoxas, e o que está discutindo é o velho conflito da pureza e do poder. Até que ponto se deve sacrificar uma coisa pela outra? Adianta a virtude ser apenas virtuosa e jamais vencer, ou vale até um acordo com o diabo se o objetivo final for o triunfo da virtude? Uma parábola chinesa, rápido.

Contam que na velha China chegou ao poder um imperador chamado Fernando Henrique. Eu sei que não é um nome muito chinês, mas foi o que me ocorreu. E Fernando Henrique era um homem virtuoso, e reto, e sábio, e seu maior desejo era acabar com o mandarinato atrasado e corrupto que infelicitava a China e inspirar os chineses com o seu exemplo, e ficar na história. Governaria com virtude, retidão e, principalmente, sabedoria, para que no futuro, quando falassem no seu reinado, todos dissessem “o de Fernando Henrique, o Sábio”.

E a maior prova da sua sabedoria seria uma aliança com o mandarinato atrasado e corrupto, um arranjo que lhe permitisse governar sem oposição, e acabar com a infelicidade da China, e inspirar os chineses a serem virtuosos, retos e principalmente sábios como ele, e ficar na história. E fez a aliança. E quando lhe perguntavam se ele não inspiraria mais os chineses conservando sua pureza do que fazendo arranjos para se manter no poder, respondia que sem o poder não faria nada, não inspiraria ninguém e no futuro seu reinado seria lembrado como “o de Fernando Henrique, o Bobo”. Ou nem seria lembrado, pois ele nem chegaria ao poder. E Fernando Henrique governou durante 12 anos com o mandarinato atrasado e corrupto, sem oposição, e mostrou que tinha razão, pois manteve o poder o tempo suficiente para inspirar os chineses com o seu exemplo e ficar na história. Hoje, na China, o seu reinado é conhecido como “o do Mandarinato Sábio, que fez um arranjo com o imperador aquele”.

Não tenho bem certeza do significado desta parábola, mas quem a entendeu, por favor, avise o PT.”

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