De uma hora para outra, parece que muita gente “acordou” para os altos salários dos vereadores de todo o país. Faz todo o sentido que o cidadão se preocupe com isso. Só numa cidade como Curitiba, os salários dos vereadores custam R$ 7,4 milhões por ano. Não é pouca coisa.
O movimento começou no interior do estado, em uma cidade pequena: Santo Antônio da Platina. Faz muito mais sentido a reclamação nas pequenas cidades. Em Santo Antônio, por exemplo, os vereadores recebiam R$ 4,5 mil e queriam subir para R$ 7,5 mil. Com os protestos, os vereadores decidiram reduzir o próprio salário para R$ 970.
Isso animou outras pessoas a pedir o mesmo em outras cidades. Em muitos casos, os salários são realmente absurdos. Até porque na maior parte dos municípios do Paraná há sessões numa noite por semana. Ou seja: o vereador não é um “profissional” da política. Trabalha em outra coisa e, durante uma ou duas horas semanais, vão à Câmara votar algo.
Não justifica um salário alto demais – aquela não tem porque ser a principal atividade de alguém. E obviamente a pessoa tem tempo para outras atividades econômicas. Mais ainda: as pequenas cidades não têm orçamento para bancar custos altos.
Agora, o caso chegou a Curitiba. Os manifestantes pedem que os vereadores reduzam seus próprios salários de R$ 15 mil para R$ 1,5 mil. Faz sentido que os altos salários, as mordomias e todo o alto custo dos políticos causem indignação na população. No entanto, é preciso saber direcionar a indignação.
No caso dos vereadores de Curitiba, eles têm sessões três vezes por semana, durante o horário comercial. Claro: isso não toma o dia inteiro. Mas ainda há outras ações que um bom vereador precisa fazer: desde discussão com a população até reuniões políticas, incluindo gastar tempo com transparência.
Evidente que R$ 15 mil são demais, até pensando que vivemos em um país com muitas dificuldades financeiras. Mas é preciso pensar que no caso de uma capital, o vereador não é um “voluntário”. E eliminar o salário, ou colocar um valor muito baixo, até afastaria a possibilidade de pessoas mais pobres, que dependeriam desse salário, se candidatarem ao cargo.
É preciso que os políticos custem menos. Mas é principalmente necessário diminuir os gastos com a estrutura que os legisladores têm e que muitas vezes servem apenas para fazer campanha pela reeleição. Diminuir os comissionados, o valor gasto com cada gabinete, seria muito mais importante, e reduziria muito mais o custo da Câmara do que a redução do salário do vereador.
Hoje, o vereador não tem só alguém para secretariá-lo: tem chefe de gabinete, assessor de imprensa, gente nos bairros para “atender” os cidadãos etc. Tudo isso custa R$ 51 mil por mês. Três vezes e meia o salário do vereador. E é aí que está o problema. Não só porque isso custa R$ 25,1 milhões por ano. Mas porque isso distorce a função de um vereador.
Recentemente, o vereador Chico do Uberaba disse que os vereadores pagam para trabalhar. O que ele queria dizer é que eles precisaram de uma estrutura maior ainda para fazer esse trabalho de despachante com a população. Para ganhar votos. Porque é disso que eles vivem.
Para ter uma Câmara mais barata e que se concentre naquilo que é o fundamental do Legislativo – fazer leis e fiscalizar o Executivo, ao invés de ficar fazendo politicagem nos bairros com a pobreza alheia – o fundamental seria tirar esse comitê permanente que trabalha pela reeleição de suas senhorias. Isso seria muito mais útil e mais importante.
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