A causa é justa. O método não foi violento. E o prejuízo para a cidade, se houve, foi mínimo. A ocupação da Câmara de Curitiba por parte dos manifestantes que pedem a redução da tarifa de ônibus, portanto, é lícita. Ocupações são sempre questionadas, como se em si mesmas fossem um mal: não são. Nesse caso, por exemplo, parece ser apenas uma maneira de exercício de cidadania, sem danos a ninguém.
Há que se elogiar também a postura do poder público frente à manifestação. Deixou-se que os manifestantes fizessem seu protesto e também da parte do município não parece ter havido repressão com violência, nem tentativa de prisão dos manifestantes. Pelo menos até onde eu tenha visto. Pelo menos até onde se tem notícia.
A manifestação, assim, é muito mais digna e respeitável do que as que vêm sendo feitas em outras cidades e até mesmo por aqui, com depredações, violência e métodos desnecessariamente abruptos de interrupção do diálogo. A ocupação da Câmara, um prédio público, por tempo determinado, não pode ser banalizada, e usada a qualquer momento para qualquer coisa. Mas contratos bilionários e postos sob suspeita pelas próprias autoridades estão em jogo. O dinheiro curto e a dignidade mirrada dos passageiros também.
Falar em passe livre é beirar a utopia ingênua. Não vai acontecer. O transporte público custa quase R$ 1 bilhão por ano, e não há de onde tirar esse dinheiro, a não ser que se aumente o IPTU de todo mundo em níveis absurdos. Imagina-se que não é isso que os manifestantes queiram. Mas rever contratos, preços e políticas é necessário.
Faz parte da cidadania discutir as coisas em praça pública. O Legislativo é a casa do povo. Desde que a ocupação não seja violenta, predatória ou que impossibilite o trabalho dos vereadores por muito tempo, pode ser aceita como parte da vida política da cidade.