Pra quem ainda não ficou sabendo da treta: a filósofa Marcia Tiburi abandonou um programa de rádio nesta quinta-feira ao saber que iria debater com Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL. Disse ao microfone, antes de sair porta afora, que se recusava a falar com gente “indecente e perigosa”.
Kataguiri ficou apenas com um sorriso irônico no rosto. Sabia que tinha vencido a batalha sem dar um único tiro. Depois, acabou enfrentando o senador Requião no programa.
A pergunta que isso suscitou é: fez bem quem abandonou o debate? Pra botar mais fogo na história, Tiburi, que claramente se posiciona mais à esquerda, é autora de um livro chamado Como Conversar com um Fascista. E é de fascista que muita gente (erradamente, diga-se) chama os integrantes do MBL.
Primeira coisa que os próprios liberais teriam de admitir antes de qualquer outro: a pessoa tem direito de fazer o que quiser. Inclusive tem que ter a liberdade de não participar de um debate. Seria absurdo exigir algo diferente.
Mas ter um direito e achar que é o caso de usá-lo são coisas bem diferentes.
Para muita gente, Marcia Tiburi errou. Entre os argumentos:
Mais tarde ela publicou uma carta se explicando. Leia aqui.
Admito que não acho a postura dela errada. Eu mesmo tenho para mim que, com muitas pessoas, eu não aceitaria debater. Nem estou falando do menino Kataguiri, exatamente. Mas, em abstrato: tem gente que, na minha cabeça, não merece ser legitimada por uma conversa séria.
O jornalista Claudio Abramo, ícone da profissão nos anos 1970, encerrou a carreira dizendo que se orgulhava de jamais ter entrevistado algumas pessoas (lembro que falava em misses, hoje talvez falasse em BBBs). E, curiosamente, terminava a lista com Jânio Quadros.
Acho que ele tinha razão. Jânio, mesmo presidente, era um folclore que precisava de legitimidade.
Marcia Tiburi pode não ser a pessoa favorita de muita gente. Mas tem uma obra. Tem uma formação. Tem uma reputação. E construiu isso academicamente, com trabalho, leitura, suor. Nem sei se o trabalho dela vale a pena, para falar a verdade.
Mas emprestar esse peso a Kataguiri seria desproporcional. Trata-se de um menino que, bem ou mal intencionado, fez do debate com gente maior sua arma.
Pior: o MBL, sua turma, usa qualquer declaração dele, de forma desvirtuada, deturpada, para fazer clipes de internet curtinhos, muito mais potentes do que a própria transmissão da rádio, para dizer que Kim “esmagou, derrotou, lacrou, deu aula” em quem quer que seja.
E a militância, fanática, aplaude. E espezinha o “inimigo”.
Eu jamais participaria de debates com alguns “jornalistas” celebridades, por exemplo. Não teria estômago. Nem acho que fosse o caso. Cada um tem seus limites.
Na cabeça de Tiburi, Kim é um golpista, um ignorante e um sujeito perigoso. Sabe o quê? Ela tem direito de pensar assim.
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