Eder Borges, que coordenou o Movimento Brasil Livre (MBL) durante todo o processo de impeachment de Dilma, entrou em rota de colisão com a Universidade Federal do Paraná. Borges foi ao campus da UFPR no Litoral, em Matinhos, e fez um vídeo mostrando parte das instalações. Acabou chamando o local de “favelão pichado”.
O local visitado por Borges, que é filiado ao PSC e foi candidato a vereador no ano passado, abrigava uma exposição de arte feita pela comunidade estudantil. Segundo ele, as instalações e grafittis, que muitas vezes falavam da condição da mulher e do negro ou sobre o capitalismo, eram o equivalente a mero vandalismo.
Borges também mostrava no vídeo inscrições feitas pelos alunos nas paredes e repetia o discurso que vem sendo feito pelo MBL contra a universidade pública e em favor de uma “Escola sem Partido”.
Como costuma acontecer nesse tipo de crítica à universidade pública, o autor do vídeo não chega a articular uma crítica mais sofisticada. Diz apenas que o prédio “deveria ser uma instituição de ensino”, o que de fato é – o que ele estava exibindo na tela não eram as salas onde de fato ocorrem as aulas, e sim uma exposição.
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O prédio, aliás, estava vazio no momento da filmagem. Borges também não fazer qualquer contextualização sobre a exposição, sobre quem participou dela ou sobre quais eram os objetivos. As inscrições nas paredes fazem parte da mesma exposição? São permanentes ou temporárias? São um projeto de ensino ou meramente a universidade liberou os alunos para se manifestarem por um período?
Só o que interessava ao ex-MBL era a tese de que as universidades públicas são supostos antros de propagação de contracultura (o que, obviamente, do ponto de vista do movimento, já seria um problema em si).
Em nota onde informa a saída de Eder Borges, o MBL diz que concorda com as críticas feitas no vídeo.
Reação
A publicação do vídeo no Facebook levou o campus da UFPR no Litoral a emitir uma nota pública sobre o assunto. Segundo a nota, “a universidade pública brasileira está sob ataque. Partidos, governos, setores da mídia e indivíduos nas redes sociais vêm se dedicando a propagar o ódio à instituição, à arte e à ciência, por meio da ignorância, do preconceito e da mentira”.
“Como parte integrante da mais antiga universidade brasileira, a UFPR Litoral também foi alvo recente da mais destrutiva intolerância, que reivindica o monopólio do que é bom, belo e verdadeiro. Ninguém o tem”, diz o texto.
Além de ressaltar o papel que o campus de Matinhos teve para o desenvolvimento da região, a nota ressalta o papel das instituições de ensino superior para o conhecimento em geral e para a crítica social, particularmente.
“A universidade é uma instituição milenar que sempre ocupou papel central no desenvolvimento das nações. Nos períodos de obscurantismo e autoritarismo, ela foi o refúgio do pensamento livre, da vanguarda da criação artística e intelectual, da tolerância, da diversidade e do conhecimento científico. É um patrimônio de toda humanidade, essencial para seu progresso”, diz a nota.
Borges publicou uma resposta à UFPR aqui.
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