Em cinco palavras, Michel Temer deu mais de um motivo para seu impeachment. “Tem que manter isso, viu?”, foi o que o presidente disse, segundo O Globo, ao dono da JBS. Estava se referindo a um pagamento ilícito para que Eduardo Cunha se mantivesse em silêncio.
O crime mais óbvio aqui é o de obstrução da justiça. Temer estava conspirando com empresários para que uma investigação da polícia e do Ministério Público não chegasse a ele, não chegasse a seu grupo político. Curiosamente, esse foi um dos ingredientes principais do impeachment de Dilma, quando ela tentou colocar Lula na Casa Civil.
No caso de Dilma, a situação era grave. Ela estava tentando impedir que se prendesse Lula, seu mentor e mestre. O caso de Temer é ainda mais grave: aparentemente, ele estava tentando proteger crimes que chegavam a ele mesmo, não a seus correligionários.
Mas há mais. O dinheiro que a JBS destinava à compra de Cunha certamente não era lícito. Temer pode ser acusado de conspirar para pagamento de propinas. E certamente se estava fazendo isso é porque tinha algo a esconder da PF e dos procuradores da Lava Jato.
Temer já aparecia em várias delações da Lava Jato. Mas nunca nada do gênero havia aparecido. Dilma caiu por muito menos: o argumento central do pedido que levou à perda de seu mandato eram as pedaladas fiscais – um assunto árido e que muita gente acredita nem configurar crime.
Todo mundo sabe desde o começo que Michel Temer fez o que pôde para chegar à Presidência. Dificilmente alguém se iludia com sua probidade. Mesmo seus aliados ficaram ao lado dele por motivos pragmáticos, não por crença nas suas virtudes.
Mas essas cinco palavras são um prego no caixão da sua imagem pública. Com 4% de aprovação e provas deste tipo contra ele, Temer só será salvo caso o Congresso esteja corrompido a ponto de não perceber mais o que é uma verdadeira quebra de decoro.
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