O discurso falou menos de Hillary do que da própria família Obama, que chegou à Casa Branca em 2008 e agora terá de sair depois de oito anos. Todo o texto, falado com perfeição de artista e emoção na dose certa, era organizado em torno das filhas.
Michelle, formada pelas melhores universidades americanas, deixou como recado final que Hillary seria a única pessoa que ela confiaria para governar o país e para fazer políticas que servissem para outras crianças igualmente.
Mas os trechos mais tocantes não foram esses, e sim aqueles em que a primeira-dama fez questão de lembrar os avanços que os Estados Unidos já fizeram. Por exemplo, colocando uma família negra na Casa Branca.
“Todos os dias eu acordo em uma casa construída por escravos”, disse ela. Em seguida, completou: mas ao acordar vê suas duas filhas, moças negras e inteligentes, brincando no gramado da Casa Branca.
A candidata do Partido Democrata é branca, da elite protestante – só difere do candidato tradicional americano por ser mulher (o que não é pouco). Mas é absolutamente chocante para nós, brasileiros, ver que ela depende de um casal de negros (e de um vice hispânico) para se eleger – Michelle foi chamada após o discurso de “arma secreta” de Hillary.
No Brasil, onde estão nossos negros na política? Uma mulher na Presidência já pusemos. E os negros? Nunca presidiram o país. Nem o Senado, nem a Câmara. O Supremo, sim, mas não se trata de um cargo eletivo…
Qual foi o negro que chegou ao segundo turno presidencial? Que governou um estado importante brasileiro? Quando teremos um casal com filhas negras correndo pelo Alvorada? Quando um candidato precisará fazer um apelo aos negros para chegar a algum lugar?
Reclama-se muito das cotas no Brasil porque teriam “dividido” o país. Os Estados Unidos, cinquenta anos atrás, tinham escolas segregadas. Hoje, têm um presidente negro. No meio do caminho, houve as políticas afirmativas que levaram os negros aonde eles estão.
Aqui, nos recusamos a fazer o mesmo por décadas, e agora só o fazemos com muita resistência. Sem a “divisão” continuamos sem ter Michelle, sem ter Obama, sem ter crianças negras em Brasília que possam servir de espelho para os milhões que continuam sem ter acesso nem mesmo ao básico e que continuam sendo vítimas de preconceitos país afora.
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