O fato de o ministro da Justiça ter conhecimento antecipado de uma operação da Polícia Federal não é apenas grave: é inadmissível. Alexandre de Moraes e o governo Temer precisam explicar imediatamente a situação intolerável criada pelo ministro neste domingo.
Recapitulando: no domingo, Moraes anunciou que a Lava Jato teria uma nova operação. Adiantou inclusive que ocorreria nesta semana. Menos de 24 horas depois, Antonio Palocci foi preso.
Vendo o tamanho do lodaçal que tinha criado para o governo, Moraes se retratou. Tentou se desdizer. Afirmou que não sabia de nada e que só disse que haveria operação da Lava Jato nesta semana porque elas acontecem toda semana.
Não é bem assim. A Lava Jato é muito ativa, mas teve 35 fases em dois anos e meio: ou seja, em mais ou menos 13o semanas. Isso dá quase uma fase por mês, e não uma por semana.
Além do mais, a fala do ministro era bem afirmativa. Dizia que sua plateia (estava em campanha) iria se lembrar dele ainda nesta semana quando ouvisse falar da nova fase. Pois é: não há como não lembrar do ministro agora.
O ministro e a Polícia Federal negam que esteja havendo informações privilegiadas ao governo. Seria fundamental essa garantia. Só o que possibilitou à Lava Jato sua existência foi o fato de o governo federal não estar no comando do operacional da PF.
Afinal, quem estava sendo investigado, em grande medida, era o próprio governo. E ainda é, ou pelo menos deveria poder ser – o governo Temer tem vários nomes envolvidos na investigação. Terão eles direito a saber se estão sendo investigados? Se serão presos?
O governo petista teve milhões de erros – bilhões, para ser mais exato. Mas teve um acerto: deu autonomia à PF, inclusive para que o derrubasse. Temer chegou ao Planalto com a suspeita de que está lá para abafar a investigação. Para “delimitar onde está”, conforme mostra o áudio de Romero Jucá.
A declaração do ministro, antecipando uma operação contra inimigos do atual governo é um indício de um aparelhamento que nem nos mais loucos sonhos o petismo ousou fazer.
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