O professor Ricardo Costa de Oliveira da UFPR, é um estudioso das relações de privilégio que as famílias tradicionais concedem a si mesmas na história da política paranaense. Tem dois livros já clássicos sobre o assunto. No primeiro, O silêncio dos vencedores, mostra a genealogia das famílias poderosas do estado e sua perpetuação em cargos políticos relevantes. No segundo, A teia do nepotismo, explora os favores que esse pessoal faz uns aos outros quando no poder.
Sobre a família Camargo, o professor deu a seguinte entrevista, em que comenta a queda (pelo menos temporária) de um grupo poderoso. Lembrando: o desembargador Clayton Camargo perdeu a presidência do TJ, Fabio Camargo foi afastado do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas e Cresus Camargo perdeu seu cartório. Para o professor, isso sinaliza algo importante na política loca. Leia as respostas:
De onde vem o poder da família Camargo?
Como boa parte da classe dominante tradicional paranaense, os Camargo são parte dos fundadores de Piratininga, das famílias de bandeirantes, da genealogia paulistana. Essas famílias estabeleceram gerações com patrimônio econômico e relações privilegiadas no Brasil. No caso dos Camargo, é possível encontrá-los na História em situações de poder desde o século 16. No Paraná, membros do clã ocuparam a presidência da província e há muito estão no Judiciário. Há desde o padre Camargo até o Visconde de Guarapuava.
O que mudou para que o poder da família pareça estar ruindo?
Há dois novos fatores. Um é a modernização da imprensa, que fez uma cobertura como nunca se fazia da eleição para o Tribunal de Contas. Com isso, houve um número recorde de candidatos. O processo se tornou mais conhecido. E a outra grade mudança é a atuação do CNJ, que tem sido decisivo como fiscalizador do Judiciário no Brasil, colocando várias questões em vários estados, inclusive aqui. Isso aumentou a pressão sobre a presidência do TJ do Paraná. Não foi só a saída do desembargador Clayton Camargo, mas outras medidas, como a suspensão do concurso para cartórios. Houve casos de nepotismo que foram destacados. Com tudo isso, passa a haver maior transparência das instituições.
O senhor está dizendo que a perpetuação do poder dessas famílias depende da ausência de modernização das instituições?
Exatamente. O nepotismo só se reproduz pelo clientelismo, pela interdependência social e pela troca de favores. Tem que ter instituições pré-modernas para a perpetuação desse sistema. Quando você começa a ter instituições que se modernizam, isso começa a quebrar a cultura do nepotismo e da sua reprodução. Meu penúltimo livro, A teia do nepotismo, mostra que o nepotismo é uma engrenagem, com todo os poderes trabalhando em comum, em conjunto. Não só os três poderes, mas o Ministério Público, o Tribunal de Contas, a mídia. Porque isso produz um grande silêncio, que é rompido quando há a modernização, quando a Universidade se pronuncia, assim como a imprensa. Assim se percebe que não é normal uma única família estar no Judiciário, no Legislativo, nos cartórios. O nepotismo atua em rede e é questionado em rede quando há transparência e quando a cultura do mérito.se instala.
As próximas gerações da família Camargo ainda terão o mesmo poder?
A transmissão do poder ficará mais complexa devido à modernização das instituições. Mas certamente os filhos de Fabio Camargo, que também carregam o poder da família Iatauro, terão um imenso capital social ainda de que irão usufruir.
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