O governo estadual e o governo federal, em parceria, estão mandando módulos móveis para áreas de uso de crack em Curitiba e de outras cidades, conforme informa o repórter Raphael Marchiori. Com câmeras, viaturas e munição não-letal, os policiais irão ao Centro, Rebouças, Cajuru e CIC. A ideia é levar dependentes a tratamento e prender traficantes.
Ninguém duvida que é preciso fazer alguma coisa. No entanto, nenhuma ação isolada resolverá o problema. Nesse caso, quem reclama são especialistas em saúde pública. Dizem que a repressão não pode ser o caminho para enfrentar o problema da dependência química; que o uso de armas, mesmo não-letais, mostra uma militarização da solução. E soa sempre o alarme de que só se faz isso porque os usuários abordados em sua maioria são pobres. O alarme, aliás, é necessário.
É claro que tratar do problema meramente como caso de polícia é absurdo. Imagine a situação: o sujeito, ferrado, viciado na droga, sai de casa desesperado por um dose e na hora de comprar vai preso. Spray de pimenta na cara, taser, jogado no camburão. Se recompõe já na cela da delegacia onde passará sabe-se lá quanto tempo. Depois volta às ruas e faz o quê? Claro, volta à droga. Portanto, a repressão pura e simples não tem como funcionar.
Tirar todos os traficantes de circulação também é impensável. A droga é barata e quando um cai, outro assume o posto. É enxugar gelo. Portanto, prender o traficante serve apenas, e mesmo assim é duvidoso, para mostrar que o crime não passará impune, que o Estado ainda funciona. Mas para isso seria preciso prender centenas de pessoas. E onde colocar todos eles? Nas mesmas celas infectas de onde sairão daqui a poucos meses ainda piores do que entraram?
Em mais de um sentido, os críticos da proposta têm razão. E, no entanto, pensar em enfrentar o caso apenas com as armas da saúde pública também é igualmente ineficiente, e até ingênuo. Enquanto houver a facilidade de venda e de compra, enquanto o consumo ficar livre de repressão, enquanto tudo continuar como está, não adianta tirar um por um das ruas e levar a clínicas: claro, é necessário fazê-lo, pelo dever de humanidade com aquela pessoa. Mas o problema social persistirá.
Os governantes (todos!) eleitos na última fornada prometeram ação combinada de repressão e tratamento. Ainda está para se ver se farão isso com eficácia. Por enquanto, a epidemia continua, e é terrível. E só será resolvida se houver mais de uma frente atuando ao mesmo tempo. No entanto, nem a segurança nem a saúde são o mais importante nesse combate, e sim o urbanismo.
O crack prospera principalmente em áreas abandonadas da cidade. Em bairros pobres. Em ruas onde não há asfalto e a polícia não entra porque não há condições de circulação. Porque ali o tráfico manda e só há pobres, e a prefeitura não se incomoda de criar uma situação em que se possa separar mais claramente o erro do acerto. Áreas em que tudo passa impune, do tráfico ao homicídio, porque lá o resto da cidade não entra e não vê o que ocorre.
O crack prospera porque a cidade é permeada de zonas em que não há Estado. E não são módulos com rodas que levarão o Estado até lá. Será uma mera presença fantasmagórica que em breve desaparecerá e deixará tudo como encontrou. Pronto para o crime, a droga e a morte.
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