A professora Marcilene Garcia de Souza está terminando seu doutorado na Unesp. Estuda os resultados da lei estadual que reserva cotas para negros em concursos públicos do Paraná. Ao blog, ela comentou a proposta de criar lei semelhante em Curitiba. O projeto que reserva 10% das vagas para negros e indígenas foi apresentado pelo vereador Francisco Garcez (PSDB).
Como a senhora vê a possibilidade de haver cotas nos concursos públicos de Curitiba?
Não conheço o projeto do vereador. Mas, em princípio, é dizer que o número de 10% pode ser considerado baixo para uma cidade como Curitiba. O estudo mais atual do IBGE afirma que Curitiba e região têm 23% de negros.
Um projeto como esse precisa de alguns cuidados. Um deles é fazer um estudo dos concursos que ocorrem hoje, para saber qual o porcentual de negros que já passam e onde estão essas pessoas. Pode ser que já haja mais do que 10%.
Também é importante que haja acompanhamento, que esse programa seja monitorado. E é preciso haver outras políticas afirmativas ao mesmo tempo.
A crítica mais comum a esse tipo de política é que eles tratam as pessoas de modo desigual.
Na verdade, as políticas afirmativas servem justamente para criar condições de igualdade. As pessoas não são tratadas da mesma maneira normalmente, é por isso que precisamos desse tipo de ação.
Os negros são, sim, vítimas de um processo de invisibilidade e de preconceito. Dados do Ipardes mostram que aqui no Paraná um negro ganha 47% do que ganha um branco.
Outra crítica afirma que as políticas afirmativas criam segregação, dividem o país.
Essa crítica vem dos setores mais conservadores, até racistas, da sociedade. Isso não aconteceu nas universidades, por exemplo. A diversidade foi bem-vinda. Os negros têm índices de evasão menor do que os brancos de classe média e desempenho louvável. No serviço público também é importante haver essa diversidade. Isso permite que no espaço do serviço público o negro se reconheça.