O caso de Katia Dittrich não é o primeiro e não será o último: na Câmara de Curitiba, denúncias de vereadores que ficam com parte do salário alheio são quase tão comuns quanto projetos de nome de rua.
Em tempos recentes, dois vereadores perderam o mandato por isso: Paulo Frote e Custódio da Silva. Um deles, Custódio, acabou na cadeia. Katia é a terceira investigada e, convenhamos, as provas parecem sólidas. Vá saber se ela consegue convencer os pares de sua inocência…
O problema é que há cargos demais em cada gabinete, dinheiro demais. Antes o número era ainda mais absurdo. Depois de vários escândalos e de uma reestruturação recente, a equipe de cada vereador passou a ser de sete comissionados.
Pequenas Empresas, Grandes Negócios
É uma pequena empresa que custa, descontadas as mutretas, R$ 51 mil para o seu bolso. Por gabinete. Ou perto de R$ 2 milhões por mês somando os 38 comitês – digo, gabinetes. Sem contar que quem é líder de bancada ou tem cargo na mesa ganha uns carguinhos a mais. E numa Câmara com 22 partidos e cinco membros da Mesa… bom, quase todo mundo é líder.
Agora, tente explicar para o cidadão comum por que um cidadão precisa de sete assessores num gabinete. Agora imagine que, além dessa estrutura interna, suas excelências ainda contam com a assessoria dos funcionários efetivos da Câmara, como advogados, jornalistas etc.
Do que um vereador poderia precisar, de fato? Alguém para atender o telefone e cuidar de sua agenda? Ok. Quem sabe um assessor político. Um assessor de imprensa? Vá lá. Que mais?
Comitês 24h
A principal função dos assessores é garantir os votos para a próxima eleição. Atender os eleitores. Ouvir as reclamações. Fazer aquele meio de campo esperto com a prefeitura para conseguir uma promessa de antipó.
Cada gabinete é um cartório de venda de influência política. Em quatro anos, com sete pessoas trabalhando pagas pelo erário, o sujeito precisa ser muito ruim para não se reeleger. E parte dessas pessoas nem trabalha na Câmara: trabalha nos gabinetes dos bairros – talvez o caso mais escandaloso de uso de dinheiro público para propaganda eleitoral em tempo integral.
O sistema é feito para permitir desvios. Ainda mais se você pensar que os salários dos servidores comissionados, que podem ser indicados livremente pelos políticos, chegam a fantásticos R$ 12 mil por mês. Dá para imaginar alguém aceitando trabalhar por R$ 6 mil e devolvendo a outra metade?
Pois é. Só não há mais escândalos porque o dinheiro rolando é tanto que muita gente prefere ficar no seu cantinho levando uma grana. Ainda que seja só parte do que o cargo supostamente oferece.
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