O bolsonarismo se elegeu com o discurso da guerra cultural – fez a população acreditar em mitos como a “doutrinação na escola” e a “ideologia de gênero”. Criou monstros invisíveis para poder gerar um falso Messias que os combata.
Não é à toa que o primeiro alvo do novo governo deverá ser a Educação. A crença é de que a escola brasileira está infestada por professores dogmáticos de esquerda que tentam desvirtuar o ensino em nome de sua ideologia. Agora, na cabeça dos bolsonaristas, isso precisa de uma mudança de 180º.
No próprio domingo, após a eleição, uma deputada do PSL de Santa Catarina já incitava os alunos a se tornarem delatores de seus professores. Se alguém criticasse Jair Bolsonaro (PSL), deveria ser filmado e denunciado. A propositora da ideia, Ana Campagnolo (PSL), é uma das entusiastas do Escola sem Partido.
Ideia declarada ilegal pelo STF e esdrúxula por educadores, o Escola sem Partido está já na pauta inicial do novo governo. Apontada como possível líder de Bolsonaro na Câmara, a ex-jornalista Joice Hasselmann (PSL-SR) afirma que quer que o projeto seja de autoria dela, e quer pressa.
O objetivo é expurgar a política da sala de aula e classificar qualquer pensamento crítico como doutrinação. Com o novo Congresso, não é impossível que passe, embora provavelmente os tribunais vão derrubar.
Leia mais: A imprensa brasileira foi conivente com o radicalismo de Bolsonaro
A própria pedagogia, na narrativa da extrema direita, tem de ser expurgada. Bolsonaro, em entrevista pré-eleitoral, disse que quer para o Ministério da Educação alguém firme, que tire Paulo Freire da pauta. Trata-se, como se sabe, do principal intelectual brasileiro na área.
Os bolsonaristas também tendem a “limpar” o currículo, deixando na grade cada vez maior quantidade de aulas ide disciplinas instrumentais, como português e matemática, e acabando com disciplinas que discutam a sociedade a fundo, como sociologia e filosofia.
Na biologia, o retrocesso também deve vir. O general Aléssio Ribeiro Souto, cotado para ministro da Educação, disse em entrevista que o aluno brasileiro deve estudar o criacionismo em pé de igualdade com a evolução. Que deve-se estudar Darwin, mas não necessariamente para que o aluno concorde.
É como dizer que deve-se mostrar como deve ser feita uma soma matemática, mas “não necessariamente para que o aluno concorde”. A ciência e o pensamento crítico, na guerra cultural bolsonarista, devem ser as primeiras vítimas.
Câmara aprova regulamentação de reforma tributária e rejeita parte das mudanças do Senado
Mesmo pagando emendas, governo deve aprovar só parte do pacote fiscal – e desidratado
Como o governo Lula conta com ajuda de Arthur Lira na reta final do ano
PF busca mais indícios contra Braga Netto para implicar Bolsonaro em suposto golpe
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS