Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo

Ficou impossível negar que Donald Trump é racista

Uma investigação do governo americano nos anos 70 mostrou que a empresa presidida por Donald Trump evitava alugar imóveis para negros. Para saber se as reclamações dos clientes eram reais, os investigadores mandavam falsos interessados negros aos imóveis – e, logo a seguir, outros falsos clientes, brancos. Repetidas vezes, os negros ouviam que não havia imóveis para alugar. E os brancos recebiam várias opções para locação imediata.

Nos últimos dias (e lá se passaram quarenta anos desde que a investigação foi feita), voltou a se debater se Donald Trump (que hoje preside bem mais do que uma imobiliária) é ou não racista. O presidente americano, claro, nega. Afinal, como se sabe, ninguém é racista. Racista é sempre o outro.

O que levou à nova discussão foi um comentário do presidente presenciado por muita gente (a ponto de ninguém mais estar tentando negar que ele disse o que disse). Ao discutir a questão de imigrantes para os EUA, Trump perguntou por que o país ficava recebendo gente de “países de merda”, e não da Noruega, por exemplo. Entre os países de merda estavam o Haiti e países africanos, por exemplo. Países de negros, em suma.

Claro que os defensores de Trump dirão que é uma questão econômica, não racial. A Noruega é um país rico; o Haiti, um país pobre. “Países de merda”, assim, seriam os países pobres, não os de maioria negra. Mas é curioso como essas “coincidências” se acumulam na presidência de Trump.

O New York Times, mais importante jornal dos EUA (e que, como todo bom populista, Trump insiste em tentar desqualificar), fez neste fim de semana uma longa lista dos elementos que tornam impossível não perceber o viés racial de Trump.

Leia mais: A ideologia de Trump é a supremacia branca, diz escritor

Assim que se lançou candidato, ele chamou os mexicanos de estupradores: um povo inteiro, de 127 milhões de habitantes. A maioria, de não-brancos. Coincidência?

Para separar os americanos dos vizinhos, insistiu num muro que impedisse os mexicanos de entrarem no país. Começava a saga anti-imigração.

Já na presidência, assinou uma ordem banindo a entrada de gente de sete países nos EUA. Todos muçulmanos, de maioria árabe ou negra. Mas o critério, claro, não era racial, nem preconceituoso.

Numa outra declaração sobre migrantes, disse que todos os haitianos tinham Aids.

Ao se deparar com o primeiro presidente negro da história dos EUA, decidiu que Barack Obama era queniano.

Em 1989, quando ainda não era político, Trump pagou um anúncio pedindo pena de morte para cinco réus negros e latinos acusados de estuprar uma branca. Anos mais tarde, o DNA mostrou que eles eram inocentes.

O pior momento do racismo de Trump veio com Charlotesville, quando o presidente, num ato de violência de supremacistas brancos contra negros, preferiu dizer que a culpa era “de todos os envolvidos”.

Trump também recebeu apoio de membros importantes da Ku Klux Klan.

Retuíta sempre comentários de supremacistas brancos.

Fez campanha para um candidato ao Senado do Alabama que fez elogios à escravidão.

Leia mais: Trump, Hitler e os falsos liberais têm mais em comum do que possa parecer

A essas alturas, só alguém incapaz de enxergar um palmo adiante do nariz ou interessado demais em promover a agenda de Trump (e há colunistas por aí tão fanáticos que insistem em defender um racista só por ele ser de direita) seria capaz de não entender o óbvio.

Trump é um racista. Um homem que julga os outros pela cor da pele, pelo país de origem, pela religião que professam. Que zomba da pobreza alheia, que quer distância de negros, árabes, mexicanos e pobres. Que não consegue conviver com o diferente e que só disfarça isso, minimamente, para que seu discurso seja tolerável.

É uma lástima que os EUA, um dos países mais importantes do mundo, tenham escolhido um homem assim para chefiar seu Executivo. Mas pior ainda seria fecharmos os olhos para o problema e fingirmos que está tudo bem. Não está.

Siga o blog no Twitter.

Curta a página do Caixa Zero no Facebook.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros