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Beto Richa disse nesta terça-feira que os líderes das ocupações de escolas devem ser responsabilizados pela morte do adolescente assassinado em Santa Felicidade.”Temos que começar a atribuir responsabilidades às pessoas”, afirmou o governador.

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A relação entre os líderes das ocupações e a morte do adolescente dificilmente levaria algum júri, algum tribunal a responsabilizá-los criminalmente por algo. No máximo, ao estimular as ocupações, criaram um ambiente em que aquilo foi possível.

Por essa lógica, seria possível responsabilizar o governo também? Por não ter prevenido as ocupações? Por não ter mantido adultos e vigilância nas escolas? Por a polícia não ter chegado a tempo? Por ter descumprido sua palavra e ajudado a criar o clima que levou às ocupações?

É evidente, para qualquer um que não esteja tomado de rancor ou de cálculo político, que a morte do adolescente é uma tragédia que não pode ser atribuída a qualquer atividade política. E é uma temeridade mexer com os sentimentos de duas famílias a essas alturas, acirrar ainda mais os ânimos.

Sem falar do mau gosto de usar tão descaradamente a morte de um menino de 16 anos – uma tragédia – para finalidades políticas. Algo a que um governante jamais deveria se prestar.

Mas, mesmo que o raciocínio de Richa fosse correto, seria o caso de perguntar se a “atribuição de responsabilidades” pela qual ele clama não deveria começar por outro lugar.

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A relação do governador com o massacre do 29 de abril, por exemplo, é muito mais linear, muito mais simples: ele estava no topo de uma cadeia de comando que terminava, na ponta, com PMs descendo o sarrafo em centenas de pessoas. Uma ordem dele e tudo teria parado.

Deve ser responsabilizado por isso?

E no caso da Operação Publicando, que investiga desvios na Receita. Ele era o governador: deve ser punido?

E na Quadro Negro, que investiga desvios de recursos da educação em seu mandato: a quem atribuir as responsabilidades?

E na Voldemort, em que um primo do governador está preso por desviar recursos via licitação fraudulenta?

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E no caso de Ezequias Moreira, aquele em que Richa disse ter perdoado o pecado de desviar meio milhão de reais de dinheiro público. Houve atribuição de responsabilidades? Responsabilizar Ezequias e chamá-lo para o primeiro escalão são coisas que se pode conciliar?

Richa agiu de boa fé ao não cumprir os mandados de reintegração de posse nas escolas. Pela primeira vez nos vários conflitos com a educação de seus dois mandatos agia como alguém realmente aberto ao diálogo. A declaração de agora põe tudo por água abaixo – e o coloca de novo no papel de alguém que quer demonizar seus adversários políticos.

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