Depois de duas décadas, o país volta a enfrentar um processo de impeachment presidencial. A pergunta óbvia é: Dilma resiste? Qualquer um que responda sim ou não, simplesmente, será palpiteiro apressado. Ninguém sabe. Nem mesmo a presidente.
Os fatos são esses: Dilma tem três fatores relevantes contra si e a favor de seu impedimento. O primeiro é o próprio Eduardo Cunha, que abriu o processo de impeachment. O segundo são as irregularidades e suspeitas de irregularidades envolvendo o governo e pessoas próximas. O terceiro é a economia.
Os dois primeiros não têm como derrubar Dilma. Cunha já fez o mal que podia fazer e está em franca decadência. Seu ato tresloucado de abrir o processo de impedimento é uma mostra de seu desespero. Além disso, Eduardo Cunha é um pulha. O país hoje sabe disso. Em tese, o fato de ele estar a favor do impeachment é um ponto contra sua aprovação.
A Lava Jato descobriu coisas escabrosas e ainda está a pleno vapor. Até agora, Sergio Moro e a força-tarefa, porém, nada têm contra Dilma. As irregularidades que realmente estão comprovadas e que têm a ver com o presidente são de outra ordem, como as pedaladas fiscais. Mas isso, em si, não derruba presidente nenhum.
Vamos e venhamos. O que derruba um presidente, a não ser em casos excepcionalíssimos, é a economia.
No caso de um processo de impeachment, quem vota são os congressistas. Primeiro os deputados, depois os senadores. Quando há presidente forte, com caneta cheia, todos querem ficar a seu lado. É do lado do Executivo que estão cargos, verbas, emendas, orçamento e poder. Quem quer a reeleição precisa do apoio da Presidência – ou fazer-lhe oposição estridente.
O presidencialismo é centrípeta. Políticos em geral são pragmáticos: os corpos se atraem na proporção direta dos benefícios que podem receber para eleições futuras. O problema de Dilma não é ser impopular, é ter um governo em frangalhos que pouco tem a oferecer a aliados.
Cargos? Mas quem quer cargos em governo sem orçamento? Emendas? Mas que emendas são essas que podem não ser pagas? Apoios? Mas apoio sem obras serve de quê?
Lula, em 2005, passou incólume pelo mensalão porque tinha caneta cheia e bonança na economia. Dilma tem o desafio de manter um terço do Congresso a seu lado em uma economia em crise e sem verba para muita coisa. Isso num Congresso com 30 partidos em que o PT representa pouco mais de 10% da bancada da Câmara.
Não vai ser fácil.
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