Política é feita de símbolos. Ninguém sabe disso melhor do que Lula, ele mesmo um símbolo ambulante. O símbolo de milhares, milhões de pessoas na rua gritando que o governo é corrupto é fortíssimo e que quer vê-lo derrubado. Praticamente insuperável. Não há governo que resista a isso, muito menos um governo fraco como o de Dilma Rousseff.
Goste-se ou não disso, este domingo foi mais um dia histórico na política nacional. A quantidade de gente que se dispôs a ir para a rua pedir a queda de Dilma é avassaladora. Na política profissional, isso deve se traduzir em votos pelo impeachment de Dilma – quem é o deputado que ousaria a se contrapor a um movimento desse tipo? Quanto mais gente na rua da sua cidade, mais o deputado tenderá a derrubar Dilma.
O problema do governo é não ter mais símbolos para contrabalançar o peso dessas manifestações. Tinha o símbolo da economia pujante: ruiu. Tinha o símbolo da defesa dos pobres: já não vem colando mais. Tenta agora criar contrassímbolos, degradando na medida do possível o que a oposição conquistou. Prega que as passeatas não são tudo isso, ou por não serem realmente populares, e sim da elite; ou porque são golpistas. De novo, não está colando.
A esperança do lulismo era de que a afronta a Lula feita pela PF e pelo Ministério Público nos últimos dias seria motivo de reagrupamento do PT e suas bases. A jararaca, atacada, reagiria, e com ela levaria a multidão que sempre a acompanhou. Uma semana depois, as ruas se inundam de gente dizendo que não querem nem ouvir falar de Lula.
O governo já mostrou que não tem cacife para botar mesmo contingente na rua. O que não quer dizer que vá desistir. Mas a reação parece cada vez mais improvável, para alegria de Michel Temer, que já deve sonhar com suas noites no Alvorada, deixando para trás o seu atual pesadelo: o Palácio do Jaburu.
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