Há pelo menos dois motivos para achar que Michel Temer não tem condições de ser presidente da República. Uma é eleitoral. Outra, política. E a terceira, criminal. Se as três se juntarem, é bem possível que o país passe pela segunda queda presidencial em menos de um ano.
O problema eleitoral é velho conhecido. Temer foi eleito na mesma chapa de Dilma Rousseff, e a chapa foi denunciada ao Tribunal Superior Eleitoral pelo PSDB. A acusação é de de o dinheiro que financiou a eleição veio de caixa dois.
Essa acusação fica cada vez mais forte. Agora, na delação vazada da Odebrecht, um diretor disse que R$ 10 milhões foram parar na mão do atual presidente. Caixa dois. Desvio. Corrupção. Tudo para vencer uma eleição.
A escapatória de Temer para os problemas com a chapa, até aqui, vinha sendo a de dizer que a parte podre da dupla era Dilma. O dinheiro sujo vinha do PT e para o PT. A delação da Odebrecht mostra que, mesmo separadas das contas de Dilma, as de Temer são sujas.
O segundo problema é o político. Temer tem uma aprovação ridícula neste momento. O Datafolha mostra que a aprovação dele é semelhante à de Dilma antes da queda. O próprio Temer alertou, em setembro antes de ela cair, que ninguém se mantém num governo assim.
Mais do que isso, quatro em cada dez brasileiros acham que o governo de Temer é pior do que o de Dilma. E o governo ainda não passou as reformas impopulares que deseja. E a cada dia surgem mais denúncias – essa pesquisa, por exemplo, foi antes do vazamento da Odebrecht.
O fato é: ninguém quer Temer presidente. Pelo menos entre a população normal. Para alguns, ele é a solução meia boca encontrada para substituir Dilma. Mas ninguém votou nem votaria nele.
Pode-se alegar que ele está protegido porque, embora entre os eleitores comuns ele não seja nada, tem apoio entre quem conta: empresariado e elite política. Verdade: mas o apoio no Congresso se corrói a cada denúncia. Ninguém quer ficar ao lado de um homem desprezado pelo eleitor.
Ainda mais se o terceiro problema continuar se agravando. E o terceiro problema é o pior. É o criminal. E vem se tornando absurdamente grande. E ainda virá o restante da delação da Odebrecht.
É muito provável que Temer balance. Tem chance grande de cair. E aí teremos um presidente eleito indiretamente por um Congresso maculado pela corrupção. Óbvio que a legitimidade desse interino será igualmente questionada.
Tempos difíceis para a democracia no Brasil.
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