Dificilmente alguém discordará da sentença a seguir. “A força e a liberdade de imprensa, a independência do Judiciário e o acompanhamento da população são fundamentais no combate à corrupção.” Corretíssimo, não? A frase foi pronunciada pelo governador Beto Richa em evento nos Estados Unidos e registrada com as devidas pompa e circunstância pela Agência de Notícias do governo.
Richa está nos Estados Unidos ensinando os outros a governar. Diz o texto da agência oficial que ele deu aula em Columbia (uma pena que Barack Obama não estivesse mais lá!), falará a acadêmicos em Chicago, concedeu entrevista ao Financial Times. Quer espalhar pelo mundo os bons resultados de sua gestão no Paraná, aparentemente. Falou, por exemplo, sobre os contratos de gestão – os mesmos contratos que, segundo se descobriu recentemente, não foram acompanhados durante a primeira metade do governo. Não se sabe se o governador mencionou o deslize.
Mas, voltando à lição anticorrupção de Richa: dificilmente alguém discordará. Imprensa, sociedade e Judiciário são três pilares importantes para combater a corrupção. Assim como o Legislativo, o Tribunal de Contas e outros mais. Deixemos de lado a relação do governo com a imprensa — particularmente com blogs amigos — e vejamos como Richa se sai nos dois outros pontos.
A relação com o Judiciário independente, por exemplo, está sendo alvo de investigação do Conselho Nacional de Justiça. A suspeita é que o Judiciário teria, sob o comando de Clayton Camargo, feito um acordo com o governo para eleger Fabio Camargo conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Em troca, Richa teria acesso a bilhões de reais de dinheiro de depósitos judiciais. Sem perder a independência jamais, é claro.
Já a participação popular depende de vários fatores. Por exemplo, a existência de órgãos administrativos a que a população possa recorrer. Sintomático que o governo, em sua recente reforma, o governo tenha decidido extinguir a Secretaria de Controle Interno e Corregedoria e Ouvidoria Geral, para criar um órgão só, a Controladoria Geral do Estado. Economia, dizem. Mas a secretaria criada para pôr Ezequias Moreira no primeiro escalão, livrando-o de processo criminal, continua intacta.
Aliás, o caso Ezequias nos leva a outro fator de participação popular: a transparência. Tente achar o endereço de trabalho do secretário da sogra fantasma nas páginas do governo. Ou seu ramal. Ninguém sabe onde ele trabalha e se trabalha. Sabe-se só que seu processo pelo desvio de centenas de milhares de reais do gabinete de Richa na Assembleia parou assim que ele virou secretário.
Transparência não é o forte do atual governo, todos sabem disso. Recentemente, Richa mandou um projeto para a Assembleia dizendo que economizaria R$ 48 milhões ao cortar mil cargos. Demorou semanas para indicar minimamente de quais secretarias eram esses cargos, e foi preciso que a oposição atuasse para descobrir que 40% já estavam mesmo vazios. Exemplos outros não faltariam.
Dia desses Dilma Rousseff também andou ensinando no exterior como se governa. Curitiba, então, vista da Europa, é modelo de sustentabilidade e de inovação. Falar para gringos é fácil. Especialmente para os que nunca estiveram aqui. Combater corrupção de verdade? Richa mostrou que sabe o caminho. Pelo menos a frase é boa.
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