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Caetano Veloso escreveu coluna dizendo que não é censor. Chico Buarque escreveu texto exclusivo para o O Globo dizendo que não é censor. Paula Lavigne foi ao Saia Justa, do GNT, dizer que não é censora. E, no entanto, todo mundo continua achando que o que eles estão fazendo tem cheiro, gosto e cara de censura. O motivo? É porque é censura mesmo.

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Nos textos que li dos que atacam biografias não autorizadas o argumento é sempre o mesmo, sempre único e sempre tênue: o direito à privacidade tem de limitar o direito à livre expressão. Fora algum libertário meio anarquista, dificilmente alguém discordaria disso. O problema é onde colocar o limite. E todo mundo que não tem medo de ser biografado está dizendo a mesma coisa: o pessoal da associação Procure Saber, liderada por Roberto Carlos, está pondo o limite no lugar errado.

Chico Buarque, em seu texto publicado nesta quarta, diz que foi censurado pela Globo durante a ditadura. Presume-se que considere isso um erro. Todos consideram que foi um erro, não é? Pois então como isso pode servir de argumento agora? Só para dizer que as organizações Globo não têm “estatura moral” (como diria aquele programa humorístico) para criticar censura?

Mas não se trata de quem defende o que. Assim como algo não está errado só porque a Globo defende, não passa a estar certo só porque Chico e Caetano estão a favor. Em filosofia, isso é o que se chama argumento ad hominem. Não serve para nada, só para tumultuar e acirrar ânimos. Normalmente é usado por quem está nas cordas, sem ter como argumentar.

Alice Ruiz, aqui na província, também aderiu à causa. Censurou as biografias do ex-marido famoso, Paulo Leminski. Não quer que digam que ele não tomava banho, por exemplo. E revela toda a contradição da coisa. A família de Paulo Leminski tem benefícios hoje pela imagem pública do marido. O livro com a obra completa dele vende bem. Mas não é só. A família promove exposições, excursões e o que mais e lucra com isso. Nada contra. Têm direito.

Mas isso mostra que se trata de uma figura pública. E é permitido, em democracias, falar sobre figuras públicas. Ainda mais quando não é mentira!

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Chico Buarque reclama de erros em biografias. Ok. Então vamos proibir também os jornais de publicarem algo antes que uma fonte externa verifique a verdade dos fatos. Mas, espera aí: não foi contra isso que ele e tantos outros (corretamente) se opuseram nos anos 60 e 70?

Sejamos coerentes. Ou há democracia ou há censura. As pessoas são figuras públicas ou não são. Não dá para querer em cada coisa só aquilo que te favorece.