A reação de parte da sociedade às mortes e crimes dentro de cadeias é a de um sorriso contido, ou nem tão contido. Cenas como as que foram divulgadas no complexo de Pedrinhas, do Maranhão, sempre fazem surgir comentários supostamente engraçados e outros que nem tão disfarçadamente dizem que o melhor é deixar que a coisa corra solta mesmo: que não me apareça alguém dos direitos humanos para tentar interferir.
Na profissão, já ouvi coisas do tipo até de colegas. Apurando matérias sobre homicídios, também vi pessoas dizerem que os crimes na periferia são bons porque “dão uma limpada” nos bairros. O sentimento foi registrado por Caetano Veloso quando falou sobre o massacre do Carandiru em “Haiti”. “O silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina” mostra como parte da cidade encarou o massacre de 111 presidiários. Basta lembrar que o coronel responsável pela operação foi eleito deputado. Usando como número de urna o 111.
O que parece passar despercebido por quem faz esse tipo de comentário, desejando que as prisões sejam mesmo locais de tortura, carnificinas e exposição dos presos às condições piores possíveis é que, independente do resto (independente do direito do próprio preso, que parece nem caber na cabeça de muita gente), o que está-se fomentando ali é a degradação de um ser humano. É a retirada de valor da própria humanidade.
Não é nem só o fato de que o sujeito, quando voltar Às ruas, seja porque fugiu ou porque cumpriu a pena, será pior. E será. Sempre me lembra a frase de que cadeias são um jeito caro de tornar as pessoas piores. Mas o próprio fato de haver aquele tipo de degradação e de ela ser aceita piora a todos nós quando não reagimos. Estamos dizendo que, no fundo, em certas circunstâncias, é aceitável a tortura, é aceitável que se deixe um sujeito decapitar o outro. Se for a “vítima certa”, não nos oporemos.
A barbárie não é só de quem comete o crime. É dos governos que são coniventes com ela. E dos eleitores e leitores, nós mesmos, que permitimos essa conivência por meio de nosso silêncio sorridente. Estamos criando o futuro do país dentro das penitenciárias. Depois, quando o PCC toma as ruas, fica-se atrás de explicações.