O perfil da Universidade Federal do Paraná no Facebook foi tomado por discussão sobre as cotas usadas no vestibular deste ano. Após o anúncio do resultado da primeira fase, vestibulandos que se consideraram prejudicados pelo sistema reclamaram da diferença das notas de corte anunciadas pela instituição.
A universidade respondeu oficialmente no perfil explicando que as regras realmente mudaram neste ano. Agora, por orientação do MEC, 50% das vagas na primeira fase são destinadas a alunos de ensino médio público e de baixa renda. Dentro dessa categoria, 50% (ou seja, 25% do total) são destinadas a cotas raciais.
Vários estudantes se sentiram não só prejudicados como ultrajados. Segundo vários dos comentários, a universidade estaria aceitando alunos com notas muito baixas e que prejudicariam a própria qualidade do ensino. Outros foram mais longe e disseram que isso é prejudicial ao país. “Deveriam melhorar o ensino público ao invés de criar cotas, Estão criando um país de debiloides!”, escreveu uma.
Leia mais: Grande dúvida sobre novo sistema é sobre desempenho de cotistas.
O principal comentário foi contra a justiça/injustiça do sistema. “Direito teve diferença de nota de 40 entre ampla concorrência e cotas, como acham que isso é justiça? Isso não é justiça, isso é preguiça de criar um ensino público DECENTE e fica dando mastigado na boca de todo mundo. Acertei mais da metade da prova e não passei, enquanto tem gente aí que acertou 1/4 dela e passou, isso não é justiça em nenhum lugar”, disse uma aluna.
Num comentário mais ponderado, uma internauta disse: “É tanto pavor de crítica à qualquer ação de inclusão social que as pessoas perderam a noção do razoável.”
A universidade e o MEC não acreditam que tenham perdido a noção do razoável. A diferença das notas de corte para a segunda fase realmente é grande. Em alguns cursos, alunos passaram com 11 ou 12 acertos (de 80 questões) para a segunda fase. Isso nem de longe significa que entrarão na universidade, porém. E, se entrarem, não significa que serão alunos piores. Estudos têm mostrado resultados muito semelhantes na hora de sair do curso e desistência menor por parte dos cotistas.
Em todo caso, trata-se de uma questão polêmica e que foi decidida politicamente. O governo federal tem de fato o direito de usar a universidade pública (paga com impostos de todos) não apenas como um meio de formar “elites intelectuais”, mas também de usá-la como instrumento de reforma social. Há quem não goste – e a dissidência é legítima, desde que seja argumentada de maneira razoável.
As cotas, porém, têm sido instrumento de grande peso para dar chances (raras) a pessoas de classe média baixa e a não-brancos para ter acesso a um bem público (as federais) que até pouco tempo atrás eram monopólio de uma classe social e de uma etnia.
É claro que o MEC e o governo federal não são donos da verdade, e os critérios podem ter de ser revistos se ficar comprovado que as notas e os alunos são decepcionantes. Por enquanto, não foi isso que se revelou, e sim que uma maior inclusão pode levar a um país mais igualitário.
Para quem ficou de fora em função de um critério político, porém, obviamente não vai ser fácil concordar com isso.
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS