Recém-nomeado ministro da Fiscalização e Controle, Torquato Jardim fez críticas pesadas a aliados do presidente Michel Temer antes de ser nomeado ministro. Entre os dias 18 e 20 de maio, ele participou de um congresso em Teresina, e concedeu entrevista a um jornal local. Durante a entrevista, ele classificou o chamado Centrão, bloco de 13 legendas e 225 deputados que dão sustentação a Temer na Câmara, de “balcão de negócios”. O áudio da entrevista foi publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo.
O Centrão é uma força histórica do Congresso, um conjunto de parlamentares de centro-direita que, desde a Constituinte, orbita em torno do PMDB e controla a Câmara. Em maio, esse grupo deixou de ser uma eminência parda para virar um bloco partidário oficial – sem a presença do PMDB. Ao todo, são 13 partidos representados, os principais sendo o PP, o PRB, o PSD, o PTB e o PR – todos, ex-base de Dilma Rousseff.
“Partido político hoje é uma central de negócios, todos tem o mesmo programa, varia o mecanismo de um ou outro. Veja o noticiário de hoje, se formou um novo Centrão, com 15, 20 partidos, para fazer pressão no presidente Michel Temer e conseguir mais cargos”, criticou Torquato. Ele disse ainda, que o bloco foi montado em nome da “corrupção e da safadeza”.
A leitura de Torquato, porém, é de que o Centrão foi criado para “pressionar” Temer – ou seja, de certa forma ele isentou o presidente. É uma leitura um tanto ingênua. Esse grupo de legendas foi fundamental, para início de conversa, para que o impeachment tivesse prosseguimento na Câmara e no Senado – o que levou Temer à presidência interina, em primeiro lugar. E é sabido que ele próprio articulou com essas lideranças.
Seja como for, a afirmação de que os partidos são um balcão de negócios, e mais ainda o próprio Centrão, é verdadeira. Na prática, o bloco nada mais é que uma força que serviu, historicamente, para fins de assegurar governabilidade através da fisiologia e da corrupção. Serviu assim ao PSDB, serviu assim ao PT e servirá assim a Temer – ou, melhor dizendo, com o PMDB no poder, governa quase sem intermediários.
Ao contrário do áudio que derrubou seu antecessor, Fabiano Silveira, a fala de Torquato é condizente com a posição que ele irá assumir. É melhor um ministro de Fiscalização e Controle que critique a corrupção do que um que tente defender corruptos. Ainda assim, ao chamar partidos aliados de “corruptos e safados”, o novo ministro pode gerar constrangimentos para o governo. Mesmo que por falar a verdade.
A entrevista foi dada durante o Congresso em Teresina, mas foi publicada somente duas semanas depois, na última quinta-feira (2). Quando deu a entrevista, Torquato ainda não havia sido convidado para assumir o ministério.
Críticas
Além das críticas ao Centrão, Torquato, que foi ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), criticou as novas regras para as eleições de 2016 – incluindo a vedação de doações empresariais, que classificou como um “salto no escuro”. “Não se sabe o que vai acontecer, porque é uma mudança muito radical. É difícil imaginar que o poder econômico vai ficar fora da eleição”, disse.
Torquato demonstrou, também, ceticismo em relação aos efeitos da Lava Jato no longo prazo. “O que mudou com o impeachment de Collor? O que mudou no Brasil depois da CPI do Orçamento, quando os sete anões foram cassados? O que mudou com o mensalão? O que vai mudar com a Lava Jato?”, disse. “Enquanto o mensalão estava sendo condenado, a Lava Jato estava sendo operada”.
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