Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:
Nesta semana, todos os jornais deram a mesma notícia: o décimo terceiro salário vai injetar R$ 143 bilhões na economia brasileira. É o tipo da notícia que todos os anos está na agenda – só o que muda é o número depois do cifrão. Em Curitiba, há outra notícia igualmente cíclica. A cada quatro anos, mais ou menos, o prefeito anuncia que conseguiu liberação de verbas federais, internacionais ou intergalácticas e que, portanto, dessa, vez, não tem erro: o metrô sai do papel. O que muda, novamente, são os detalhes. O nome do prefeito, por exemplo, ou a quantidade de milhões que ficaremos devendo.
Na minha carreira de repórter, vi isso acontecer pela primeira vez em 2003. Era o penúltimo ano de Cassio Taniguchi como prefeito e, em seu gabinete, ele anunciava com um sorriso que a Secretaria do Tesouro Nacional havia concedido o aval necessário. O empréstimo sairia. O prefeito disse que não teria como terminar a obra a tempo de ele mesmo inaugurar, mas isso era o que menos importava. Curiosidade: em seu mandato anterior, o mesmo Taniguchi já havia anunciado outro projeto de metrô, igualmente fracassado.
Desde então, se tornou uma tradição. De vez em quando, o prefeito de Curitiba chama o presidente, anuncia a verba, um projeto novo – muito melhor do que o anterior! – aparece na tevê e tira uma foto para a campanha. Beto Richa fez seu projeto, Luciano Ducci discursou ao lado de Dilma Rousseff. Agora chegou a vez de Gustavo Fruet. Se os curitibanos continuarão andando nos expressos da década de 1970? É esperar para ver. E em esperar, convenhamos, estamos ficando bons.
Esperamos há anos, por exemplo, que façam a licitação do lixo. Enquanto isso, pacientemente, vamos pagando uma empresa privada bilionária para receber nossos dejetos sem licitação (Fruet acaba de devolver o processo à estaca zero). Esperamos por mais táxis há 40 anos, e sempre nos dizem que faltam só mais alguns meses. Pacientemente esperamos durante décadas para que se fizesse uma licitação dos ônibus; e quando ela foi feita não houve concorrência. Permaneceram lá as mesmas empresas que exploravam o serviço há meio século. Esperamos agora que alguém nos diga o que é feito com a montanha de dinheiro paga anualmente ao ICI, mas ainda nada.
Agora mesmo estamos esperando o novo prefeito cumprir a promessa de destinar 30% da receita corrente líquida para a educação. Seria seu grande legado imaterial, disse Fruet. Mas, mais uma vez, precisaremos ter paciência. Enquanto não chegar a véspera da próxima eleição, os 30% não virão. No orçamento do ano que vem, por exemplo, o aumento foi bem menor. Os professores continuarão esperando um salário mais justo. Os que seriam atraídos para a carreira de professor com um pagamento decente continuarão em outras áreas. As crianças não esperarão: crescerão mesmo sem os 30%. Que fazer? É da natureza delas.
Certeza mesmo é só uma. Daqui a três anos, teremos eleições para prefeito. Será a hora de ver se todas as promessas, incluindo a do metrô, saíram do papel. Fruet, por enquanto, ainda tem crédito. Assumiu há pouco tempo. Mas precisará fazer bem mais do que erguer palanques para Dilma e Gleisi discursarem sobre obras futuras. Anúncios de grandes obras, na verdade, sabemos que todos eles fazem com maestria. O resto é que é difícil. Haja paciência.
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