Segunda parte da entrevista com o professor Claus Germer, do Departamento de Economia da UFPR:
2-) Desde 1989, falou-se em fim da história, em fim das ideologias, como se o capitalismo fosse definitivo e insubstituível. O senhor acredita que o projeto socialista faliu? Existem outras alternativas?
A idéia de ‘fim da história’ foi um rompante de euforia capitalista comemorando o fim das grandes experiências socialistas do século 20. Pretendia-se que a humanidade se deteria no capitalismo para sempre.
Na realidade, porém, nada no mundo permanece imóvel, tudo muda e se transforma. Em todas as sociedades a classe momentaneamente dirigente e detentora exclusiva das fontes da riqueza acabou acreditando que a sua forma de sociedade e o seu domínio eram definitivos e eternos. Todas elas, porém, ruíram e foram substituídas por novas formas de sociedade.
Os impérios do passado consideravam-se inexpugnáveis, mas acabaram derrotados e se dissolveram, apesar do imenso poderio que concentravam. Na realidade, a regra da história é a mudança. Isto significa que, apesar da euforia do ‘fim da história’, o próprio capitalismo também deverá chegar ao fim e o capitalismo deverá ser substituído por outra forma de sociedade, que acreditamos que será a sociedade socialista.
O socialismo é encarado não como objetivo de um pequeno grupo de idealistas, a ser imposto à sociedade, mas como resultado objetivo do desenvolvimento do próprio capitalismo, resultado que já pode ser visualizado na observação das tendências evolutivas atuais. Ou seja, o socialismo é o ponto de convergência das tendências evolutivas observadas no capitalismo, com base no ininterrupto desenvolvimento da ciência e das técnicas.
Duas linhas de evolução fundamentais podem ser observadas: por um lado, a propriedade privada dos meios de produção vai sendo espontaneamente abolida, na prática, o que se reflete no fato de que mais de 75% da população dos países capitalistas desenvolvidos ou medianamente desenvolvidos já não possuem propriedade alguma de meios de produção e são obrigados, consequentemente, a trabalhar como assalariados dos proprietários, que não passam de 5% da população total, no máximo; por outro lado, com a crescente centralização do capital em grandes empresas de dimensão cada vez maior, o mercado é crescentemente substituído pelo planejamento, por elas realizado, como regulador da produção e da distribuição.
Estas duas linhas de evolução deverão culminar nas duas características básicas do socialismo: por um lado a abolição legal da propriedade privada (que na prática já está extinta para a maioria da população) e sua substituição pela propriedade social ou coletiva, e a substituição do mercado pelo planejamento integrado da produção e da distribuição.
Finalmente, o fim das experiências socialistas do século 20 não pode ser interpretado como a falência do socialismo, mas como a conclusão de uma primeira etapa da sua evolução. Ao longo da história, nenhuma nova forma de sociedade se consolidou na primeira experiência. O capitalismo só se estabeleceu definitivamente após diversas experiências relativamente curtas e finalmente fracassadas, cobrindo pelo menos três séculos, mas cada uma delas forneceu alguns elementos necessários ao que viria a ser o capitalismo.
Certamente um processo semelhante dar-se-á na transição do capitalismo para o socialismo.